Nas colunas das edições de número 201 e 203 desta publicação, tratei sobre a importância de comissionar corretamente as redes de média tensão, antes da energização das plantas, ocasião onde listei algumas abordagens que podem ser adotadas durante a operação, a fim de garantir que a vida útil desses importantes ativos seja prolongada. Nesta coluna, vamos dar continuidade ao assunto, listando outras abordagens que podem ser empregadas.
Importante lembrar que, mesmo depois de um comissionamento bem executado, os cabos isolados estão sujeitos à degradação com o passar do tempo, e tendem a apresentar sintomas de envelhecimento, com variação no valor do tangente delta, após cerca de 10 anos em operação. Então, para assegurar uma vida útil prolongada desses sistemas, é altamente recomendável aumentar a frequência de procedimentos de manutenção.
A seguir, além das estratégias run-to-failure e testagem periódica, abordadas na edição 203 dessa revista, vamos listar outras abordagens que podem ser adotadas durante a operação de forma única e global ou de forma combinada e selecionada para alguns trechos dos circuitos, de acordo com as estratégias de manutenção adaptadas para cada tipo de operação.
Engenharia de confiabilidade
Determinados gestores optam por aplicar a metodologia run-to-failure combinada a ferramentas de engenharia de confiabilidade, para identificar cabos que possivelmente devem ser substituídos. Por exemplo, se os cabos instalados em determinado período alcançarem uma determinada taxa de falhas, considera-se que todos estão em condições ruins e que devem ser substituídos. Se há uma taxa de falhas mais elevada para determinada área do parque, substitui-se os cabos sob a perspectiva de que alcançaram o fim da vida útil. Nessa abordagem, utiliza-se a inferência estatística para tomar ações baseadas em comportamentos médios do parque.
É um avanço em relação à estratégia run-to-failure, melhorando a tomada de decisão para substituição dos cabos ao fim da vida útil. Mas, para que seja viável, necessita de um parque instalado considerável e informações documentadas, para viabilizar uma análise estatisticamente significativa. Aqui, como na metodologia run-to-failure, falhas eventuais são esperadas durante a operação, pois procedimentos e ensaios não são aplicados.
Figura 1 – Gráfico esquemático que correlaciona a condição dos cabos de um parque em função do tempo em serviço. Ao aplicar ferramentas de engenharia de confiabilidade, o comportamento médio traz informações pertinentes para tomada de decisão sobre substituição de cabos. No entanto, como ensaios de manutenção não são realizados, espera-se uma taxa de falha similar ao run-to-failure. Há certo desperdício também na etapa de fim da vida útil, devido à tomada de decisão baseada em média
Testagem periódica e Engenharia de confiabilidade
Nesta metodologia, combinam-se os efeitos da testagem periódica (abordada em meu artigo publicado na edição 203 desta revista) para redução do número de falhas em operação, com a estratégia que emprega ferramentas de engenharia de confiabilidade, para identificação do momento oportuno para substituição dos cabos. Há uma notável otimização da gestão dos ativos, sendo aplicáveis os mesmos pontos favoráveis e desvantagens já indicados nos tópicos anteriores.
Manutenção centrada em condição
Na manutenção centrada em condição, ensaios preditivos são utilizados para caracterizar a condição dos ativos e direcionar ações preventivas. Por meio dos ensaios, cabos com desvios são identificados e corrigidos, reduzindo a probabilidade de falhas, sem aplicação de estresse elétrico demasiado e possível redução de vida útil. As informações obtidas pelos diagnósticos são utilizadas para determinação do momento ideal de substituição dos cabos. Há forte otimização da gestão dos ativos
Figura 2 – Gráfico esquemático que correlaciona a condição dos cabos de um parque em função do tempo em serviço. Quando aplicados os ensaios preditivos, a condição dos cabos é inferida e a tomada de decisão, seja para direcionamento de procedimentos preventivos, ou para substituição de cabos ao fim da vida útil, torna-se mais precisa, com ganhos diversos para gestão dos ativos
A desvantagem dessa metodologia, em relação às demais apresentadas, é o investimento inicial necessário para aquisição de equipamentos, bem como os custos e dificuldades para manutenção de equipes treinadas.
Sobre o autor:
Daniel Bento é engenheiro eletricista. Membro do Cigré, onde representa o Brasil em dois grupos de trabalho sobre cabos isolados. É diretor executivo da Baur do Brasil | www.baurbrasil.com.br