Os ventos são bons, mas e as redes? | Que os ventos soprem a favor das redes

Oh como os mortais culpam os deuses de todas as coisas, quando na verdade, são eles próprios, devido à sua insensatez e à sua loucura, que sofrem demasiadamente.”

No poema Odisseia de Homero (Canto I), o poderoso Zeus exclama o texto acima. Alguns pesquisadores acreditam que este poema tenha sido escrito em grego antigo, possivelmente na linguagem Eólios ou, pasmem, Eólico!

E aqui está a conexão com os tempos atuais, onde no Brasil, as energias renováveis crescem de maneira formidável.

Nos últimos 10 anos, saímos de uma capacidade instalada de menos de 1 GW para 25,63 GW de energia eólica, de acordo com o boletim anual de 2022 divulgado recentemente pela ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias). Além disso, alcançamos a sexta posição no ranking mundial de energia eólica onshore, segundo o Global Wind Report 2022, um relatório do Global Wind Energy Council (GWEC). Para se ter uma ideia, em 2012, ocupávamos o 15º lugar. Um verdadeiro salto na busca por alternativas mais limpas de energia!

Voltando ao poema de Homero, sabemos que o herói Odisseu passaria ainda por grandes desafios: 

“O primeiro desafio serão as sereias… As sereias que possuem uma voz muito envolvente, muito sedutora e muito encantadora”. “Os homens que delas se aproximam, nunca mais os filhos e esposas verão novamente, eles morrerão.”

Dito isto, voltemos então para os parques eólicos no Brasil. Os primeiros deles, em sua grande maioria instalados no Rio Grande do Norte, que receberam incentivos pelo PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), tiveram suas redes de média tensão instaladas, quase em sua totalidade, de forma subterrânea. Ou seja, receberam redes isoladas de energia.

Porém, como Zeus mesmo disse: “Oh mortaisdevido à sua insensatez e à sua loucura, que sofrem demasiadamente.”

Hoje em dia, a grande maioria das redes de média tensão, dos novos parques eólicos brasileiros, está sendo construída de forma aérea, diferentemente do que ocorreu lá atrás. Ou seja, os investidores estão sendo seduzidos pelo “canto da sereia”, onde os envolventes, sedutores e, por que não, encantadores menores custos de implementação na construção da rede aérea, estão os levando para um triste e custoso final.

Vamos lembrar aqui de alguns conceitos, de maneira resumida:

Capex (capital expenditure): significa despesas de capital. São investimentos em máquinas, equipamentos (infraestrutura) e imóveis.

Opex (operational expenditure): significa despesas com a operação.

Investidores atentos têm como meta o maior retorno com o menor investimento possível. Portanto, ao olharmos para o lado do Capex (investimento), seria justo concluir que a melhor opção econômica para os parques eólicos é instalar as redes de média tensão de maneira aérea. O problema é que, depois de instalar e ligar o parque, ele terá de ser operado e mantido.

É aí que entra em cena a importância de considerar o Opex. Redes aéreas de média tensão pressupõem altos custos com manutenção quando comparadas com as redes subterrâneas, além de contarem com taxas de falha extremamente mais altas, resultando em interrupções e paradas mais frequentes na geração de energia.

Outro ponto a ser considerado nesta conta é que cerca de 80% do custo de construção de um parque eólico é destinado para os aerogeradores, enquanto os outros 20%, são destinados a outros custos do empreendimento, como o investimento na rede de média tensão, que gira em torno de 2% a 4%. Logo, uma rede de baixa confiabilidade e alto custo de manutenção, que são características de redes aéreas, é somente entre 1% e 2% mais econômica em comparação com uma rede de alta confiabilidade e disponibilidade e baixo custo de manutenção.

Nessa hora, vale lembrar que um dos ensinamentos do Princípio de Pareto (regra 80-20), do economista italiano Vilfredo Pareto, é que as maiores oportunidades estão nos 20% que impactam em 80% dos investimentos. Ou seja, em vez de economizar na parte mais econômica do empreendimento, por que não investir em uma alternativa que, a curto, médio e longo prazo, pode representar ainda mais retornos para os parques? 

Que os bons ventos do Brasil soprem a favor de redes mais confiáveis para que, lá na frente, não culpemos os deuses pela baixa disponibilidade dos nossos promissores parques eólicos.

Autor:

Por Daniel Bento, engenheiro eletricista com MBA em Finanças e certificação internacional em gerenciamento de projetos (PMP®). É membro do Cigré, onde representa o Brasil em dois grupos de trabalho sobre cabos isolados. Atua há mais de 25 anos com redes isoladas, tendo sido o responsável técnico por toda a rede de distribuição subterrânea da cidade de São Paulo. É diretor executivo da Baur do Brasil | www.baurdobrasil.com.br

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