por Benedito Donizeti Bonatto*
Até onde o autor sabe, não existe um modelo econômico de mercado abrangente e capaz de lidar com todas as complexidades de se migrar para um ambiente de energias renováveis e redes elétricas inteligentes (Smart Grids) [1]-[12]. A experiência acumulada baseada em simulações, em projetos- piloto, em experiências práticas, revela alguns cenários publicados ou projetos implementados muito bem-sucedidos, mas outros, com profundos impactos negativos na sociedade, nem sempre são devidamente medidos ou sequer mencionados. Além disso, o enorme e rico banco de dados de artigos de periódicos e conferências sobre o tema Smart Grids com modelos técnicos para problemas clássicos e desafiadores não responde às questões fundamentais:
- Quanto dessa nova tecnologia está agregando valor à sociedade?
- Em outras palavras, o bem-estar socioeconômico está sendo maximizado pela aplicação dessa tecnologia com a abordagem atual?
- Com a geração distribuída empoderando o cliente, que passa a ser um prosumidor – prosumer (produtor + consumidor), como lidar com as questões técnicas, como regulação de tensão e frequência em uma microrrede?
- Existe uma alternativa ótima integrativa para compartilhamento de infraestrutura, de controle e de responsabilidades? O compartilhamento pode ser uma boa opção para a otimização de alguns sistemas e ativos muito importantes na sociedade moderna, como as infraestruturas críticas.
- Quais são as abordagens de controle mais eficazes: local ou global? Qual delas é técnica e economicamente viável e pode fornecer sobrevivência sustentável em operação normal (modo conectado à rede) e condições de contingência (modo ilhado)?
- Como evoluir o modelo de Mercado Regulado de Distribuição de Energia Elétrica atual (Figura 1), garantindo um equilíbrio justo entre todos os agentes?
Embora as questões de tecnologia de Smart Grids representem desafios mais atrativos para o desenvolvimento de engenharia e de tecnologias em todo o mundo, parece que uma questão em aberto é o desenvolvimento de um novo modelo de negócios e seus consequentes impactos econômicos sobre os agentes (concessionárias, consumidores, governo, comercializadores, fabricantes etc.) nos futuros mercados de eletricidade. De fato, o desenvolvimento de Mercados Inteligentes Sustentáveis (Sustainable Smart Markets) é a verdadeira questão que, de fato, é (ou deveria ser) o principal interesse dessas partes interessadas, que são (ou deveriam ser) motivadas na busca por soluções otimizadas e também soluções sustentáveis econômica, ambiental e socialmente.
Há que se procurar inovação nos atuais modelos de negócios em prol da diversificação energética do país, mais que formas legais de reação junto à Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) e Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que podem frear a crescente disseminação sustentável de sistemas renováveis fotovoltaicos (PV) no País, ensolarado por natureza. A Aneel também tem o papel desafiador de rever o peso dos impostos e tributos sobre as tarifas de energia elétrica, que são abusivos!
Por exemplo, se, por meio de um modelo econômico de mercado, como o TAROT – Tarifa Otimizada [3]-[10], se pudesse demonstrar os vários cenários propostos pela Aneel, para revisão da REN 482/2012 [11] na AP001 / 2019 [12], em um modelo típico de concessionária regulada (ou em uma concessionária equivalente para o País), isto poderia revelar os ganhos e perdas de todos os agentes, bem como o bem-estar socioeconômico (EWA – Socieconomic Welfare Added ou Bem-Estar Sócieconômico Agregado à Sociedade) resultante para cada cenário. Qual é o EWA ótimo? Qual a melhor estratégia para o País no curto, médio e longo prazo? Como distribuir os ganhos econômicos e os riscos de forma justa e equilibrada entre os agentes, penalizando menos o consumidor ou o prosumer e reduzindo as tarifas em vez de aumentá-las continuamente? Assumindo EVA = 0, como estabelecido no atual modelo regulatório, quais são as políticas públicas para o setor elétrico que maximizam o EWA em um mercado de eletricidade renovável, sustentável e inteligente (renewable, sustainable and Smart Electricity Market)? Portanto, eis aí alguns dos desafios da pesquisa aplicada à realidade do setor elétrico nacional e internacional para reflexão conjunta.
O autor agradece o apoio financeiro em parte da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil – Código Financeiro 001, CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico:
– INERGE e FAPEMIG. Também expressa gratidão pelo apoio educacional da UNIFEI
– Universidade Federal de Itajubá e UPC – Universitat Politécnica de Catalunya.
*Benedito Donizeti Bonatto é professor associado na UNIFEI (Universidade Federal de Itajubá), em Minas Gerais – Brasil, no Instituto de Sistemas Elétricos e Energia, onde é um dos líderes do grupo Tecnologias Avançadas de Energia e Inovações em Sistemas e Redes Inteligentes.
É vice-presidente da Sociedade Brasileira de Qualidade de Energia (SBQEE) e membro sênior do IEEE (Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos). Atualmente, é professor visitante da Universidade Politécnica da Catalunha – UPC, Barcelona, Espanha, na EPSEVG (Escola Superior Politécnica da Engineria de Vilanova), na Geltrú. Obteve seu Ph.D. em Engenharia Elétrica e de Computação pela UBC (Universidade da Colúmbia Britânica), no Canadá, Mestrado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e diploma em Engenharia Elétrica pela Escola Federal de Engenharia de Itajuba (EFEI), atualmente, UNIFEI.
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