O profissional do futuro dos quadros e painéis

A retomada econômica do Brasil pós-pandemia tem evidenciado uma mudança no perfil do corpo técnico brasileiro, influenciada substancialmente pela entrada no cenário decisório da geração Z, ultra conectada e imediatista. Essa moçada, como esperado, vem cheia de gás e novidades, aproveitando-se da franca expansão das vagas de trabalho, ingressando também nas instalações elétricas e seus equipamentos. Até aí, tudo normal.

Entretanto, precisamos avaliar uma característica importante do bom profissional das instalações elétricas, a multidisciplinaridade. Esse atributo é constituído de uma combinação de três fatores: estudo e empenho teórico; experiência e vivência prática no trabalho; e muita dedicação.  Aí começa a dificuldade! Experiência e vivência prática levam tempo, anos e anos de trabalho e dedicação para se aprender aquilo que a universidade não ensina, além da dedicação por todos estes anos, o que os mais novos atualmente parecem não conseguir esperar. Se este fosse o único problema, treinamento e exigência do mercado de trabalho fariam os mais astutos perceberem a oportunidade e vencerem por si sós. O problema, caro leitor, salvo melhor juízo, está na qualidade da formação teórica dos profissionais, ou seja, na universidade.

Meu saudoso avô Paschoal Graziano, ao graduar-se engenheiro mecânico-eletricista na Escola Politécnica em 1946 concluiu seu curso com mais de 7.500 horas de aula! Este sim era um engenheiro multidisciplinar! Profundos conhecimentos de mecânica, hidráulica, estruturas, materiais, eletrotécnica, comunicações, além das disciplinas complementares como economia, administração, gestão industrial etc.

Meu pai, Nunziante Graziano Neto, ao graduar-se engenheiro eletricista-eletrotécnico na Escola de Engenharia Mauá, concluiu seu curso com mais de 6.000 horas de aula! Apesar de especializado como eletricista, teve também formação direcionada como engenheiro multidisciplinar. Profundos conhecimentos de mecânica, estruturas, materiais, eletrotécnica, comunicações, além das disciplinas complementares como economia, administração, gestão industrial etc.

Não foram raras as vezes em que, acompanhando meu pai na fabricação dos nossos quadros elétricos, fui surpreendido por sua habilidade de identificar defeitos operacionais nas dobradeiras com as quais conformamos a chaparia. É incrível sua capacidade de identificar as falhas mecânicas das máquinas só de ouvi-las e observá-las trabalhar.

Em 1999, como última safra de engenheiros daquele século da família, me graduei engenheiro eletricista-eletrotécnico na Escola de Engenharia Mauá, concluindo meu curso com mais de 5.000 horas de aula! Especializado eletrotécnico, tive uma formação direcionada como engenheiro especialista. Pouco aprofundamento em mecânica e estruturas, bons conhecimentos em materiais, especialização bastante aprimorada em eletrotécnica, além das disciplinas complementares como economia, administração, gestão industrial etc. Ao ingressar na carreira de engenheiro na fábrica de quadros elétricos, tinha consciência das fragilidades da minha formação quando comparava meus conhecimentos com os do meu pai e de meu avô e, então, busquei o aprofundamento teórico e consegui suprir as necessidades.

Com tanta história, o leitor deve estar se perguntando: “Onde você quer chegar?” Respondo! Quero dizer que, hoje, 22 anos após a minha formação, os egrégios das escolas de engenharia têm se graduado, na média, com pouco mais de 4.000 horas de aula. Essa é a minha preocupação. A formação diminui seu aprofundamento a cada geração, autorizam-se cursos EAD, enquanto o mercado de trabalho cada vez mais exige formação multidisciplinar e aprofundado – a curto prazo! Os conhecimentos das ciências fundamentais da formação de engenharia, como física e química, têm sido negligenciados.

Assim sendo, o objetivo deste artigo é demonstrar minha preocupação com o futuro do corpo técnico e da competência que nossa sociedade espera para a construção do futuro de nossa nação. Como sociedade, precisamos hoje nos preocupar com a formação destes profissionais, caso contrário, nosso país ou deixará de crescer por falta de capacidade de geração de valor, ou terá que importar conhecimento, mas com que riqueza?

Autor:
Por Nunziante Graziano, engenheiro eletricista, mestre em energia, redes e equipamentos pelo Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/ USP), Doutor em Business Administration pela Florida Christian University, Conselheiro do CREASP, membroda Câmara Especializada de Engenharia Elétrica do CREASP e diretor da Gimi Pogliano Blindosbarra Barramentos Blindados e da GIMI Quadros elétricos | [email protected]

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