O cenário internacional e os preços da energia solar

O setor energético mundial tem caminhado cada vez mais para medidas de descarbonização e ampliação do uso de fontes renováveis. Esta evolução é impulsionada pela crescente competitividade das tecnologias limpas, combinada com as mudanças de comportamento das empresas, da sociedade e dos governos, como se observa pelo fortalecimento de requisitos ESG (environmental, social and governance).

O aumento abrupto do preço do petróleo no mercado internacional, a explosão do preço global do gás natural, sobretudo nos mercados europeus, e os impactos negativos da guerra na Ucrânia também são impulsionadores desta transição energética mundial, que aponta com intensidade crescente para as energias renováveis como parte estratégica da solução, com destaque especial para a fonte solar fotovoltaica.

Nesse contexto, a busca por energia solar teve uma forte alta no primeiro semestre de 2022, atingindo uma demanda global de aproximadamente 250 GW, segundo indicadores da Pv Infolink. Isso manteve os preços dos módulos fotovoltaicos em patamares altos, mas já apresentando um alívio em relação a 2021.

Do ponto de vista da oferta, é importante notar que a China foi o primeiro país do mundo a sofrer os impactos econômicos prejudiciais da pandemia de Covid-19. Isso levou ao fechamento de fábricas, portos, aeroportos e trouxe restrições sobre as atividades de vários setores da economia chinesa. Até os dias de hoje, embora em menor escala, o país sofre com quarentenas (lockdowns) periódicas, devido à política de tolerância zero para a Covid-19.

O maior problema na oferta, no entanto, veio especialmente na capacidade de produção do silício de alta pureza, um semicondutor considerado o principal insumo produtivo e item de maior valor na fabricação de um módulo solar. Este material acabou sendo o gargalo do setor solar e o principal motivador da alta dos custos na cadeia de valor solar e na consequente alta de preços dos equipamentos e sistemas aos consumidores finais.

Algumas das maiores fábricas do setor também sofreram redução em sua produção, por conta de cortes imprevistos no fornecimento de energia elétrica da China, o que as forçou a operar com capacidade bastante reduzida, agravando ainda mais a situação. Tudo isso em um cenário complexo para as cadeias produtivas e de componentes de todo o planeta.

De fato, a oferta global de silício de alta pureza atravessou um ano especialmente difícil em 2021. Felizmente, há esperança no horizonte: a associação chinesa da indústria do silício aponta que o segmento já começa a se recuperar destes desafios, com um aumento gradual da capacidade de fabricação de polissilício, previsto para acelerar ainda mais até o final de 2022 e, principalmente, ao longo de 2023.

Os analistas de mercado e especialistas na cadeia de suprimento de insumos, componentes e equipamentos do setor solar fotovoltaico apontam para uma expectativa de readequação, nos curto e médio prazos, entre oferta e demanda global. Isso trará mais estabilidade aos custos de produção e aos preços finais aos consumidores, com a perspectiva de retomada da tendência histórica de queda dos custos de equipamentos fotovoltaicos e do preço final da energia solar no mundo. No final de 2021, os preços Free On Board (FOB) de módulos fotovoltaicos da China estiveram acima de US$ 0,30/Wp. Segundo consultorias especializadas do setor e de índices de preços, há tendência de queda destes valores, sendo que os preços poderão alcançar uma faixa entre US$ 0,22 e 0,24/Wp já ao longo de 2023, portanto, uma redução expressiva frente ao patamar de 2021.

Em relação à logística global, a recuperação do comércio internacional foi prejudicada por diversos fatores simultâneos, em especial: (i) a alta demanda por navios cargueiros; (ii) a indisponibilidade de contêineres; (iii) as restrições portuárias decorrentes da pandemia de Covid-19; e (iv) o irrompimento da guerra na Ucrânia. Este cenário desfavorável trouxe alta de custos logísticos e alongou os prazos do frete internacional.

Essa alta de custos impactou, também, o mercado solar fotovoltaico brasileiro. Mesmo em franco crescimento, o setor poderia ter avançado muito mais rapidamente, não fossem estes efeitos externos deletérios. O impacto negativo foi mais visível nos preços praticados pela fonte solar nos leilões de energia elétrica do Governo Federal. Em 2019, os preços-médios de venda de energia elétrica da fonte solar estiveram abaixo dos R$ 85,00/MWh. Já em 2022, os valores estão na faixa de R$ 180,00/MWh.

Importante ressaltar que os aumentos da taxa de juros dos financiamentos e da inflação de bens e serviços também impactaram fortemente os valores praticados no mercado. Vale lembrar, ainda, que a maior parcela dos custos destes empreendimentos está atrelada ao dólar. A moeda norte-americana saiu de patamar abaixo de R$ 4,00 por dólar antes da pandemia de Covid-19 e chegou a quase R$ 6,00 por dólar no auge da crise sanitária. Atualmente, estamos na faixa de R$ 5,00 por dólar.

Ainda diante de tantas incertezas, a tecnologia solar fotovoltaica continua apresentando um horizonte brilhante de desenvolvimento pela frente. Ano após ano, o setor solar segue ampliando sua capacidade produtiva global, com relevantes ganhos na economia de escala, que contribuem para a redução dos preços dos equipamentos e componentes fotovoltaicos, apesar das oscilações diante da geopolítica e do cenário de pandemia. As novas linhas de produção incorporam processos cada vez mais automatizados, ágeis e que utilizam menor quantidade de matéria prima para fabricar os bens utilizados pelo setor. Adicionalmente, os investimentos em melhorias tecnológicas têm levado a ganhos de eficiência nos equipamentos e produtos, ampliando sua potência, sua performance e capacidade de geração de eletricidade a partir do sol.

A combinação destes fatores permitiu com que o setor solar reduzisse os preços dos módulos fotovoltaicos em mais de 85% na última década, segundo levantamento da BloombergNEF, uma tendência que ainda está longe de atingir o seu limite técnico, tecnológico, econômico e financeiro. Estas medidas, combinadas com o fortalecimento de boas políticas públicas, programas e incentivos, capitaneados pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) em parceria com o poder público, com o setor privado e com a sociedade, contribuirão de forma relevante para ampliar o acesso à energia solar às pessoas, aos empreendedores, aos produtores rurais e ao poder público em nosso País.

Autores:

Gustavo Vajda – Head de Desenvolvimento de Negócios da Canadian Solar e conselheiro da ABSOLAR

Rodrigo Sauaia – CEO da ABSOLAR

Ronaldo Koloszuk – Presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR

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