Uma falha na recém construída linha de transmissão que traz a energia de Belo Monte deixou em 21 de março boa parte do Brasil sem energia, cada região foi “brindada” com um período maior ou menor de interrupção em função das características de reação dos subsistemas do sistema interligado nacional (SIN). Os números divulgados da carga não atendida (18.000 MW desligados e outros 4.200 MW rejeitados) não traduzem os transtornos causados das demandas supridas que são superiores a 73.000 MW ou 86.000MW do SIN em valores médios ou máximos.
Tudo indica que mais uma falha humana/operação foi a responsável pelo evento. Há de se considerar que os efeitos transitórios, VTCDs e outros distúrbios causaram impactos bastante importantes, além do contabilizado. A questão que ora trataremos não está relacionada às causas desta e outras falhas que a equipe do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tratará de investigar e informar sem sensacionalismo e com transparência, mas com argumentos técnicos e tomando as devidas ações corretivas evitando recorrências, aliás como lhes cabe.
Do ponto de vista do consumidor, com o avanço da importância do suprimento de energia aos seus processos cada vez mais automatizados, a função de expectador já não cabe mais. Falhas no sistema de transmissão e distribuição sempre existirão, pois são construídos com equipamentos que possuem em seus DNAs suas taxas de falha desde o instante que são colocados em serviço e, por conta disso, alguma hora irão falhar, ou pior, são ainda operados e programados por seres humanos. Enquanto a turma do suprimento faz sua lição de casa, melhorando ou tentando melhorar os seus aspectos de confiabilidade até para fazer jus ao custo da energia, a turma do consumo da outra ponta do fio, além de reclamar e reivindicar, deve começar a fazer contas e garantir resiliência aos seus processos com incremento da confiabilidade em suas próprias infraestruturas.
Alguns dias anteriores a este evento, variações de tensão de curta duração (as VTCDs) que nem chegam a durar um segundo, causadas pelo sistema de transmissão e distribuição na alimentação da cidade de São Paulo, deixaram plantas industriais paradas por várias horas causando significativas perdas de processo às plantas que não estavam preparadas para o distúrbio. As soluções não estão somente na instalação de geradores de backup que possuem intervalos de tempo de partida superiores àqueles necessários para a não interrupção da carga, isto quando partem adequadamente, pois geradores de backup possuem alta taxa de falha na partida. São necessários outros dispositivos e equipamentos em função do tipo e volume de cargas que se desejam preservar. A avaliação da viabilidade do investimento é função destas perdas.
O “chororô” típico de hospitais públicos que ficaram sem energia em razões da falha e que deixa toda a população em polvorosa ilustra o grau de despreparo dos administradores públicos e suas equipes técnicas. Está claro que carga crítica deve ser contingenciada de forma adequada à própria criticidade do processo (neste caso, vidas humanas). Um hospital não deveria nem ter licença de operação sem a mínima condição de resiliência às falhas. A patologia técnica das instalações parece ser superior àquelas que alguns médicos heróis tentam estancar mesmo sem recursos, enquanto os gestores públicos tratam de seus próprios interesses, que estes últimos façam mais, chorem menos e, por favor, não se corrompam!
Respostas de 2
Posso afirmar com certeza que o SIN possui sim infraestrutura adequada para atender os consumidores. Por ser um país de dimensões continentais, possui grandiosa extensão de linhas de transmissão por seu território, muitas delas sujeitas a intempéries distintos ao longo do percurso. Porem investimentos em qualidade de energia têm aumentado muito, como a instalação de compensadores síncronos, BC’s serie, reatores derivação para controle de tensão em carga leve, arranjos de barramentos muito confiáveis, fortalecimento de diversos troncos, controle de frequência e tensão dos subsistemas em tempo real, além de alto investimento em proteção, detalhes que não vemos na maioria dos países. O que se precisa é melhorar a funcionalidade dos ERAC’s, cobrar mais das empresas um comissionamento detalhista, além de cobrar investimentos no setor de distribuição, este que precisa ser bem aperfeiçoado ainda.
E quanto ao Sistema SelfHealing? Sera que estamos muito distante tecnologicamente para não termos aqui no Brasil?