“É fogo, torcida brasileira!”

O site g1 apresentava no dia seguinte ao jogo entre Fortaleza e Palmeiras em 11/07/2022: “Apagão no Castelão foi causado por curto-circuito em estação de energia, diz secretaria; Enel contesta”.  A nota oficial dos responsáveis pelo estádio indicava que “foi identificada uma explosão de um poste de energia do lado de fora do estádio e, por consequência, houve o mesmo problema em uma subestação da Arena Castelão”.

Aos que assistiam a transmissão pela televisão e acompanhavam ao vivo, a interrupção de energia ocorreu aos 44 minutos do segundo tempo, quando tanto Fortaleza quanto o Palmeiras ainda tentavam sair do 0 X 0. Um apagão que só não foi “geral” em função da placa de publicidade que continuou iluminada possivelmente devido ao sistema de energia de backup e aos celulares da torcida que produziam um belo espetáculo. 

No campo, os protagonistas da partida aguardavam, enquanto os civilizados torcedores arremessavam pedaços de cadeiras uns contra os outros. Tudo no escuro! Ao final de 30 minutos regulamentares o que se observava era a falta total de iluminação (e energia) nas instalações, mesmo nos vestiários e saídas do estádio para os torcedores, além de um volume de informações desencontradas que tentavam explicar o que ocorrera. Fatos que poderão ser mais bem evidenciados se houver interesse.

Sensacionalismos a parte e sob o ponto de vista analítico e comportamental das instalações elétricas, alguns pontos poderiam ser melhor entendidos pela equipe técnica de manutenção do estádio que fora integralmente reformado em 2014:

1. Causa raiz do problema, o que de fato aconteceu e qual a cronologia. Existem evidências ou medições elétricas? Como sempre ouço do meu professor Eduardo Desio, “a energia elétrica é silenciosa”. Contudo, o comportamento da qualidade da energia no suprimento e na alimentação das cargas pode ser recuperado a cada ciclo de rede, facilitando o entendimento do que e quando teria ocorrido cada evento;    
2. Certamente, os projetos elétrico e de segurança do estádio previam o pleno atendimento às normas técnicas de instalações e segurança, relacionadas às atividades desenvolvidas e deveriam ter sido aplicadas, comissionadas e mantidas. O que ficou claro pelas imagens é que as únicas baterias que funcionaram no estádio foram as dos celulares dos torcedores e as dos “lanterninhas” que conduziram os últimos torcedores para fora das arquibancadas;
3. Os sistemas de transmissão das rádios e televisões continuaram operando devido aos seus próprios geradores e telefones celulares;
4. As questões de manutenção são as mais instigantes. Os geradores estariam sendo testados e mantidos adequadamente? Os geradores aplicáveis nas atividades de segurança e alimentação de backup das cargas de emergência, sinalização de saídas e outras de uso essencial teriam de fato sido danificados por causas externas, como informado? Em que condições de segurança os 25.000 torcedores saíram do estádio? 
5. E os ambulatórios do estádio funcionaram? 
6. Quais outras arenas e estádios públicos e privados no Brasil se encontram em situação semelhante?  

O autor da celebre frase “é fogo, torcida brasileira” é do sempre lembrado Fiori Gigliotti, a quem saúdo como um apaixonado pelo futebol, além da eletricidade.  Talvez sua frase de efeito teria sido uma previsão para “a explosão do poste!”

Vamos nos profissionalizar e criar competências, nossa engenharia está pronta para atender às demandas. Particularmente, o Ceara é terra de gente muito boa na área.

Fiori Gigliotti, jornalista esportivo.

Autor:

José Starosta é diretor da Ação Engenharia e Instalações e presidente da Sociedade Brasileira de Qualidade da Energia Elétrica (SBQEE). É consultor da revista O Setor Elétrico. jstarosta@acaoenge.com.br