Situações eternizadas

Uma pergunta que me acompanha há muitos anos é: de onde tiraram a idéia de que para se fazer o aterramento de uma instalação elétrica basta enterrar uma haste no solo ou pior: enfiar um prego na parede?

Outra questão intrigante: como, sem conhecer as características do solo, os fabricantes de equipamentos eletrônicos determinam um valor mínimo para a resistência ôhmica do eletrodo de aterramento a ser conectado em seus aparelhos alegando que sem isso não podem garantir a integridade e o funcionamento do mesmo?

Essas situações instigam à seguinte analogia: na idade média, os médicos sangravam indiscriminadamente seus pacientes na tentativa de curar muitas doenças, conhecidas ou não.

Com o passar do tempo, tanto a medicina quanto a engenharia evoluíram, mas temos visto que alguns profissionais da engenharia ainda mantêm o raciocínio medieval e insistem em aplicar a mesma solução – quase sempre errada – para situações diferentes.

Valores de resistência ôhmica do eletrodo de aterramento não dependem exclusivamente da integridade física, da quantidade ou do tipo de condutor empregado, mas também de como esse material estiver disposto no solo, das conexões envolvidas e, principalmente, das características desse solo, ou seja, sem o conhecimento desses parâmetros não há como exigir qualquer valor! E notem que o assunto “metodologia do ensaio” não foi abordado, pois esta é outra questão que o dia-a-dia nos mostra quantos profissionais simplesmente usam equipamentos ao invés de medir e interpretar os resultados.

Em nenhuma norma nacional há exigência de valor mínimo de resistência ôhmica do eletrodo. A NBR 14039 – Instalações elétricas de média tensão e a versão 2005 da NBR 5419 – Proteção de estruturas contra descargas atmosféricas, em seu texto, mencionam 10 Ω como valor de referência para minimizar tensões de toque e passo, mas afirmam que a configuração e a topologia da instalação do eletrodo são muito mais importantes. A 5419 foi revisada e no texto da versão 2015 esse valor foi retirado. Gostaríamos que os integrantes da CE 64.11 que revisa a 14039 fossem sensíveis ao apelo para a retirada desse valor do texto que, em nossa opinião, atrapalha mais que ajuda. Dependendo das condições do local, um eletrodo de aterramento cujo ensaio apresente um valor de 50 Ω não está “condenado” como muitos afirmam.  Para determinadas condições específicas esse valor pode ser considerado muito bom.

É consenso na comunidade técnica internacional que o bom aterramento é aquele capaz de dissipar as correntes indesejáveis de uma instalação elétrica para o solo de forma rápida e que cause a menor perturbação possível relativa às tensões superficiais. Isto significa que o bom eletrodo de aterramento deve ser como juiz de futebol: trabalhar sem aparecer, fazer seu trabalho provendo condições para a dissipação de calor e minimização das tensões de toque e de passo, tornando-as suportáveis para as pessoas, instalações e equipamentos que dele se servirem.

Sem o conhecimento em relação à medição de grandezas elétricas em eletrodos de aterramento não adianta ficar exigindo valores ou pressionando com exigências esdrúxulas. Há de se aprender conceitos, caso contrário continuaremos escravos, quiçá órfãos, de 10 Ω.

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Uma resposta

  1. Aterramento é algo que deveria ser mais explorado são muitas opiniões que divergem, um exemplo é quando tem PLC que está no mesmo potencial do sistema elétrico de controle de motores é correto? Chamamos um especialista em conhecimento de solos ainda assim há dúvidas, se alguém tiver algum conteúdo sobre aterramento eficaz para PLC compartilhem comigo.

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