Referência no padrão construtivo das instalações elétricas, a NBR 15688 – Redes de Distribuição Aérea de Energia Elétrica com condutores nus, define uma distância de até 60 cm entre o “primeiro condutor” (referência o solo) energizado e a rede de telecomunicação. De forma intrínseca, fica evidenciado a necessidade dos trabalhadores adentrarem os limites da ZC ( 0,7 m ) estabelecida pela NR10 para execução de atividades de telefonia e TV a cabo.
No entanto, ressalta-se, que existem situações em que o “padrão construtivo” das redes de distribuição de energia elétrica não atendem às distâncias estabelecidas em projeto, fazendo com que os profissionais da área de telecomunicações, ao executar atividades de manutenção da rede de telefonia, adentrem, acidentalmente à ZC e mesmo a ZR de condutores energizados de alta tensão, por exemplo, ZC = 1,38 metros e ZR = 0,38 cm para redes de 13, 8 kv, onde infelizmente é comum ocorrerem acidentes fatais nessas condições.
Exposição ao risco de Arco Elétrico
O arco elétrico ocorre de maneira involuntária e inesperada em circuitos elétricos energizados, independentemente do nível de tensão, seja por falhas em procedimentos, falhas operacionais, características dos componentes e equipamentos elétricos ou por manutenção inadequada. Essas condições podem ocasionar sérios danos às pessoas, podendo levar inclusive à morte.
O nível de energia liberado em um arco elétrico é denominado energia incidente, definida como a quantidade de energia imposta numa superfície, a certa distância da fonte, gerada durante a ocorrência de um arco elétrico, medido normalmente em calorias por centímetro quadrado (cal/cm²), podendo também ser expresso em joules por centímetro quadrado (j/cm²). Sabe-se que a energia liberada num arco elétrico pode atingir temperaturas de até 20.000 ºC, podendo levar o ser humano a óbito instantâneo. O limite suportável da pele humana para queimaduras é 1,2 cal/cm² (5 j/cm²), aproximadamente 47 graus centígrados.
Considerando as distâncias de segurança estabelecidas pela NR10, caso exista parte condutora sem segregação, condição predominante em redes de distribuição de energia elétrica, quaisquer profissionais posicionados dentro das zonas controlada e/ou de risco estariam expostos aos riscos da eletricidade como risco de choque elétrico e arco elétrico. Sendo que, mesmo em zona livre, a exposição ao risco de arco elétrico poderá ocorrer, uma vez que, segundo normas técnicas internacionais, em certas circunstâncias, a fronteira de proteção do arco elétrico, definida como LAS – Limite de Aproximação Segura, pode ser uma distância de segurança maior do que para o risco de choque elétrico. Assim, para que tenhamos uma real distância segura de aproximação frente à exposição aos efeitos térmicos do arco elétrico, é necessário calcular o nível de energia incidente, bem como o LAS, distância definida como a fronteira de proteção contra o arco elétrico, ou seja, é uma distância das partes vivas expostas na qual a pessoa não sofreria queimaduras oriundas do arco elétrico.
Ressaltam-se os diversos cenários elétricos existentes quanto às configurações em redes aéreas de distribuição, onde existem estruturas (postes) com equipamentos específicos, como transformadores a óleo, chaves fusíveis de distribuição e outros, bem como distâncias entre rede energizada e telefonia fora de padrão. Além da variação do nível de energia incidente, o trabalhador poderá estar exposto a outros riscos adicionais, como por exemplo fogo, oriundo de explosão de equipamentos, por exemplo, transformadores a óleo, e, dessa forma, uma análise de risco deve considerar também esse tipo de exposição.
Assim, para a real avaliação da exposição ao risco de arco elétrico nas atividades de telefonia em proximidade de redes de distribuição de energia elétrica, é necessária a análise de risco específica, considerando-se os cenários existentes, onde o cálculo correto do nível de energia incidente é condição intrínseca para avaliação e definição de possíveis medidas de segurança a serem adotadas, inclusive o uso de EPI específicos.
Infelizmente, os processos de avaliação de risco nesse segmento são vulneráveis, com Programa de Gerenciamento de Risco – PGR genérico, que dificilmente retrata a realidade laboral existente, dessa forma, mascarando o real nível de risco em que esses profissionais estão expostos.
Sobre o autor:
Aguinaldo Bizzo de Almeida é engenheiro eletricista e atua na área de Segurança do trabalho. É membro do GTT – NR10 e inspetor de conformidades e ensaios elétricos ABNT – NBR 5410 e NBR 14039, além de conselheiro do CREA-SP.