Proteger pessoas em áreas abertas é sinônimo de retirá-las destes locais

Acompanhar os acidentes causados por descargas atmosféricas, principalmente aqueles que acontecem em nosso País, é uma prática fundamental para quem quer se especializar em proteção contra descargas atmosféricas e aumentar a sensibilidade da definição das estratégias de proteção.  Ao perceber as características dos acidentes, possibilita compreender os conceitos estabelecidos principalmente na parte 2 da NBR5419:2015, que trata do gerenciamento de risco, e a correlação da aplicação das medidas de proteção descritas principalmente na parte 3 desta norma.

Desde 2011, venho publicando em minhas redes sociais os acidentes que tenho notícia. Esta prática tem o objetivo de contribui na formação dos profissionais que atuam no mercado de proteção contra descargas atmosféricas. Na última temporada desse fenômeno, que aconteceu no verão brasileiro, entre o final de 2017 e o início de 2018, tivemos acidentes no Brasil envolvendo todo o escopo da NBR5419:2015. Os piores são aqueles que envolvem a vida humana, mas tivemos muitos que causaram a perda de valores econômicos e de serviços.

Houve várias perdas de vidas humanas e pessoas feridas de toda a gravidade. Um aspecto dos acidentes envolvendo a vida humana é o grande número de ocorrências com pessoas em áreas abertas, principalmente os fatais que geralmente acontecem nesta circunstância. Outra característica é o grande número de acidentes com trabalhadores que exercem suas atividades em área aberta. Infelizmente não há uma prática de proteção efetiva que permita a continuidade dos trabalhos mesmo em tempo ruim, com possibilidade de ocorrência de descargas atmosféricas. A única alternativa de proteção é a retirada das pessoas destas áreas e encaminhá-las para uma estrutura segura.

 

Esta orientação pode ser realizada administrativamente por meio da conscientização dos riscos de se permanecer em área aberta em caso de tempestades. Uma prática relativamente simples e barata é a orientação através da sinalização. A fixação de placas de advertência nas áreas, indicando a possibilidade de acidente e mostrando onde se abrigar, é uma das melhores medidas de proteção neste caso.

O que torna difícil a tomada de decisão da melhor hora de evacuar uma determinada área aberta, principalmente em um ambiente de trabalho, onde os custos de parada de processo podem assumir valores importantes, é a percepção subjetiva da possibilidade de ocorrência de descarga atmosférica, a definição do que seria uma tempestade ou um tempo ruim. Podemos ter chuvas e não haver a possibilidade de ocorrência de descargas atmosféricas e podemos não ter chuva, mas somente nuvens carregadas e haver a possibilidade de descargas atmosféricas.

Hoje temos disponíveis no mercado sistemas capazes de medir os campos elétricos e eletromagnéticos gerados por todas as fases de uma tempestade. Estes sistemas podem emitir alertas com precisão necessária para orientar adequadamente gestores de força de trabalho ou público em locais abertos em caso de tempestades. Quando se deseja estabelecer condição segura de trabalho em caso de tempestade, a instalação de um sistema de alerta de tempestades é a única medida segura e que permite minimizar a perda de produção por mobilização desnecessária.

Não haverá perda de vida humana em área aberta se lá não houver pessoas presentes. Não consigo imaginar uma situação ou condição que desobrigue os responsáveis a não orientar e retirar as pessoas das áreas abertas em caso de possibilidade de descargas atmosféricas. A nova temporada de descargas atmosféricas está chegando e muito provavelmente continuaremos a ter muitas mortes em áreas abertas. Desejo que consigamos aumentar a conscientização da proteção em áreas abertas e que os números de mortes possam reduzir significativamente.

 

*Eng José Barbosa é membro da comissão que revisou a NBR 5419.

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