O papel social da luz urbana

Edição 69, Outubro de 2011
Por Juliana Martins 

Se no começo dos tempos as pessoas precisavam aproveitar o período em que o sol estava radiante para praticar suas atividades diárias, com o passar dos anos, essa diferenciação entre dia para agir e a noite para dormir foi ficando menos evidente. Isso porque o advento da iluminação e, mais precisamente, da iluminação pública, permitiu que as pessoas desfrutassem mais da noite e deixou as cidades mais seguras e bonitas. Dos lampiões a querosene aos Leds: a história de como a evolução da iluminação contribuiu para a transformação das cidades e dos hábitos das pessoas.

Embora desde a Idade Média os seres humanos vinham tentando resolver o problema da escuridão com velas e outros artefatos – neste período, eram usadas tochas com fibras torcidas e impregnadas com material inflamável –, foi, sobretudo, no século XV que a iluminação pública tornou-se uma preocupação nas cidades. Isso porque a história aponta o ano de 1415, na Inglaterra, como a data do embrião da iluminação urbana, que nasceu como uma solução para amenizar a violência e, principalmente, os roubos a comerciantes, que aconteciam com frequência na região.

Não é à toa que especialistas referenciam a iluminação como uma grande aliada das cidades na luta contra a violência urbana, já que é uma grande inibidora de atos de vandalismo, roubo e agressões.

Os gênios da iluminação

Apesar de poucos conhecerem seu nome, foi o mecânico alemão Johann Heinrich Goebel (1818–1893) quem inventou a lâmpada, em 1854. Seu mecanismo continha fibras de bambu e ampolas de vidro transparente. O grande problema foi que esse experimento não tinha base para ser usado em larga escala e acabou sendo utilizado apenas para iluminar sua joalheria em Nova Iorque, nos Estados Unidos.

Em 1867, o engenheiro alemão Werner Siemens criou o dínamo, mecanismo que permite a utilização industrial da eletricidade. Com essa ajudinha, foi Thomas Edison (1847 – 1931), que além de inventor era empresário, quem transformou a lâmpada incandescente em um produto para consumo. Ele foi o primeiro a pensar na produção de seus produtos de forma maciça, aumentando, com isso, sua difusão. Outro grande insight dele foi pensar na importância de criar a infraestrutura para receber as lâmpadas incandescentes.

Foi então que o químico austríaco Carl Auer von Welsbach revolucionou a lâmpada de Edison, com a introdução do filamento incandescente de metal. “A substituição do filamento de carvão pelo filamento de ósmio foi mais um passo para a evolução da lâmpada incandescente da época. Passo importante também foi dado por William David Coolidge quando conseguiu trefilar o tungstênio para utilização na lâmpada incandescente, por volta de 1909”, explica o engenheiro da GE, Luciano Rosito. Os filamentos de tungstênio permitiram que as lâmpadas funcionassem em temperaturas mais elevadas, o que possibilitou uma luz mais branca e mais intensa com o mesmo consumo de energia. 

Começavam então a sair de cena os lampiões com combustível e os faroleiros que colocavam manualmente lanternas em alguns locais para a entrada dos sistemas de iluminação a eletricidade. Mas este progresso deu-se de forma paulatina, afinal, as lâmpadas instaladas primeiro nos Estados Unidos, em 1879, ainda não eram confiáveis. O antigo e o moderno dividiam a função de iluminar as ruas da cidade.

Em 1882, a primeira cidade do mundo a ter iluminação pública gerada por uma termelétrica foi Nova Iorque, mas o Brasil, que em alguns momentos se mostrou atrasado para importar novidades, foi extremamente rápido neste período.

Em 1883, mais exatamente no dia 24 de julho, em Campos, no Rio de Janeiro, utilizou-se de uma máquina a vapor para iluminar o distrito com 39 lâmpadas, sob o comando de D. Pedro II. Era o início de uma nova era para a iluminação pública aqui no País. Neste mesmo ano, a primeira usina hidrelétrica do País, em Diamantina (MG), começou a gerar energia por meio de uma linha de transmissão de 2 km, que acionava equipamentos utilizados na extração de diamantes. Ainda no estado mineiro, em Juiz de Fora, em 1889, construiu-se a primeira hidrelétrica que não servia apenas a interesses privados. Também conhecida como “Farol do Continente”, a hidrelétrica de Marmelos é considerada o marco zero da energia elétrica no Brasil e na América Latina.

A Europa, claro, não poderia ficar de fora do palco deste espetáculo. Em 10 de agosto de 1881, as luminárias de Edison se acenderam para iluminar a Exposição Internacional da Eletricidade de 1881, realizada em Paris. Os franceses e muitos turistas estrangeiros que queriam conhecer as grandes inovações do mundo fizeram fila para ter a oportunidade de ligar e desligar uma lâmpada. Era o início de uma nova era.

Mais tarde, do alto da Torre Eiffel, a fanfarra saudava 28 milhões de pessoas que foram conferir com muito entusiasmo a Exposição Universal de 1889, uma celebração aos avanços tecnológicos até então, as benfeitorias da indústria e a diversidade técnica de diversas partes do mundo. Um passeio pelas casas construídas para este evento permitia o conhecimento de curiosidades de todas as civilizações. O horário preferido para visitação era entre 17h e 19h, quando, após o jantar, no Campo de Marte (que fica ao lado da torre), os visitantes assistiam impressionados as fontes luminosas do jardim serem acesas.

A evolução da tecnologia

Do óleo ao querosene e deste ao gás, chegando finalmente à energia elétrica, muitos anos de evolução decorreram. A eletricidade, de forma mais popular, chegou apenas no século XX, quando as lâmpadas passaram a reinar soberanas pelas ruas.

A tarefa simples de acender ou apagar lâmpadas já precisou um dia ser feita manualmente. As cidades brasileiras desenvolveram seus próprios mecanismos, mas, em muitas estrangeiras, funcionários precisavam ir até os lampadários para acioná-los. Quem tinha algum imprevisto e era obrigado a andar pelas ruas após a lua dominar o céu, utilizava-se de escravos segurando archotes ou lanternas de mão.

No ano de 8000 a.C., na Mesopotâmia, foram empregadas lâmpadas de óleo. A primeira menção a velas é do ano de 5.000 a.C. Com a ajuda de pratos ou cubas com gordura animal, era colocada uma fibra vegetal que funcionava como fonte de luz. Mas o estado da gordura era líquido, diferente das velas encontradas no Egito antigo, que eram sólidas.

No Rio de Janeiro, a partir de 1763, a iluminaç&ati

lde;o pública era feita com lampadários em edifícios religiosos e oratórios existentes em algumas esquinas. Era a própria população que acendia candeeiros de azeite de peixe, além de velas de cera.

Em 1794, foram instalados 100 lampiões e candeeiros de azeite afixados em postes pelas ruas da cidade. Os lampiões eram custeados pelo poder público e pelos particulares. As casas eram iluminadas por meio de pequenos cilindros coloridos de vidro, enchidos com cera e com um pavio no centro. A partir de 1808, o intendente-geral de polícia passou a ser responsável por isso, deixando claro que a falta de segurança tinha a ver com o fato. Com o tempo, foram escolhidos escravos para executar a tarefa. Em 1822, passa para a Câmara Municipal da cidade a responsabilidade pelo serviço.

Mais tarde, entram em cena os acendedores de lampião, profissionais contratados que, perto da hora de escurecer, chegavam com uma escada nas costas e uma caixa de fósforo nas mãos, acendendo um a um os lampiões. Ao amanhecer, passavam apagando a iluminação, limpavam os artefatos e os abasteciam quando necessário. A única exceção, que era seguida por boa parte das cidades, é que em dias de lua cheia, quando a noite fica mais clara, a rotina era quebrada e a lua era a única a brilhar nas ruas.

Em São Paulo, a história começou em 1830. Nesta época, os cidadãos andavam de charrete e chapéu. A diversão era jogar conversa fora nos bancos das praças e, ao entardecer, os cidadãos se recolhiam em suas casas. Neste ano, foi estabelecido o uso de lampiões públicos, também de azeite.

Na década de 1840, com o aumento no número de veículos e, consequentemente, a alta na quantidade de acidentes noturnos, por causa da iluminação precária, percebeu-se que, aumentando a qualidade da iluminação, arriscavam-se menos vidas. A capital paulista inovou e, em 1847, a Câmara Municipal de São Paulo contratou uma fábrica de gás iluminante. No ano de 1862, foi a vez de a iluminação ser gerada por azeite fotogênico resinoso.

Foi o Barão de Mauá, em 1850, que apresentou uma proposta viável para iluminar a cidade com gás hidrogênio carbonado, e conseguiu o monopólio da exploração da atividade por 25 anos. Em 1852, na atual Av. Presidente Vargas, no Rio de Janeiro (RJ), começou a construção da fábrica de gás de carvão mineral, com dois gasômetros, e dois anos depois, sob o comando do Visconde de Mauá, foi implantada a iluminação a gás na cidade, a primeira do País a usar o sistema, que era alimentado por uma rede de 20 km de dutos de ferro. Cada combustor fornecia iluminação equivalente a seis velas de cera.

A grande vantagem dos bicos de gás é que finalmente as ruas ficaram iluminadas o suficiente para que houvesse uma mudança significativa na vida noturna, com funcionamento de cafés, restaurantes e teatros até depois do pôr do sol. Embora tenha gerado mais movimento noturno, a iluminação pública também serviu para dividir o Rio de Janeiro. As áreas mais pobres, normalmente ligadas ao período colonial, continuavam na escuridão ou na claridade improvisada, já a modernidade era vista nos locais mais badalados.

Eram necessários operadores que diariamente acendiam as luminárias a gás. O equipamento consistia em um registro para controlar a entrada de gás no combustor e uma vara especial com uma esponja de platina na ponta para ser um catalisador, provocando a combustão do gás. Segundo registros da época, em 1857 existiam 3.027 combustores espalhados principalmente pela área central. Começou-se a usar a rede subterrânea para os dutos que serviam também para distribuir o gás para cozinha e aquecimento. No fim do século XIX, havia 14.579 combustores públicos para iluminação e mais de 500 km de tubulação. A Fábrica do Aterrado produzia cerca de 21 milhões de metros cúbicos de gás anualmente no Rio de Janeiro.

Mas não foi apenas essa tecnologia que evoluiu. A mentalidade das pessoas também mudou. Quando as primeiras lâmpadas foram instaladas, a população desconfiava que elas poderiam trazer doenças e as empresas de distribuição tiveram trabalho para convencer de que não passavam de boatos. Com o tempo, a aceitação aumentou e foi possível perceber o crescimento da vida noturna nas cidades.  

O novo e o velho juntos

Em Nova Iorque, o dínamo foi usado em escala comercial pela primeira vez, pela Edison Electric Light Co., no ano de 1879. Esse mecanismo possibilitou que a iluminação pública deixasse de ser feita com lampiões e chegasse, enfim, à modernidade. Dom Pedro II deu a Thomas Alva Edison a concessão para introduzir no Brasil os equipamentos de sua revolucionária invenção. O imperador, neste mesmo ano, inaugurou a iluminação da antiga Estação da Corte da Estrada de Ferro Central do Brasil, a primeira do País feita por energia elétrica. Com a grande vontade do soberano em mostrar ser um homem avançado e com os olhos voltados ao futuro, no ano de 1881, o Jardim do Campo da Aclamação – hoje Praça da República, no Rio de Janeiro, – teve seu primeiro trecho de iluminação pública provido por energia elétrica, com 16 lâmpadas a arco voltaico, alimentadas por dois dínamos, acionados por uma máquina a vapor. O futuro havia chegado.

O primeiro serviço municipal de iluminação elétrica, entretanto, foi instalado em 1887, em Porto Alegre (RS). A energia era gerada na usina térmica da Companhia Fiat Lux. No Rio de Janeiro, criava-se a Companhia de Força e Luz, responsável por mais de 100 lâmpadas de iluminação pública.

Nesse mesmo período, a Société Anonyme du Gaz (SAG) tinha a concessão do fornecimento de iluminação e transporte público. A empresa belga tinha uma relação direta com o governo imperial e teve dificuldades para se adaptar com a proclamação da República em 15 de novembro de 1889. Dez anos depois, após muito lobby e brigas, o contrato foi revisto e a SAG manteve o privilégio para explorar a iluminação pública por 29 anos, apenas algumas cláusulas foram mudadas, como a que definia que o preço do gás seria fixado anualmente em janeiro. Sobre as tarifas, ficou definido que era considerado o uso mínimo de 5.000.000 kWh por ano em iluminação pública, o que equivale a 3.940 horas por ano por cada lâmpada. O valor variava entre o mínimo de $ 150 réis a $ 185 réis por kWh.

Mais tarde, percebendo o campo que se abria para o domínio da luz elétrica, uma empresa canadense se instalou no Brasil, exercendo monopólio nas duas mais importantes cidades brasileiras até então. Este sucesso foi alcançado por meio do olhar visionário dos empresários canadenses que começaram a investir em iluminação pública no País e perceberam que deveriam focar no fornecimento de energia. Foi assim que a Light implantou a ene

rgia elétrica na iluminação pública de São Paulo e do Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que se preparava para abarcar outras concessões públicas, como transporte e telefonia. O processo, mais complexo do que parecia, exigiu muita negociação e uma grande rede de contatos dos seus representantes.

De acordo com o livro Estudos sobre a Rio Light, coordenado por Eulália Maria Lahme Lobo e Maria Bárbara Ley, o presidente Campos Sales assinou o decreto, de nº 3.349, na data de 17 de julho de 1899, autorizando a The São Paulo Tramway, Light and Power Co. Ltd. a funcionar no Brasil. “Formaram base em São Paulo e no ano seguinte no Rio de Janeiro”, conta o diretor institucional da Light, Paulo Pinto. Desde o início, a empresa canadense tinha planos para a capital carioca, centro urbano muito promissor neste momento. Após obter apoio do presidente da República, Rodrigues Alves, e do prefeito Pereira Passos, chegou a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Co. Ltd, que foi autorizada a trabalhar a partir de 1905.

No intuito de monopolizar o setor, a companhia representada por Frederick Stark Person e Alexander Mackenzie se dedicou a captar recursos no mercado financeiro internacional, visando à aquisição de empresas que possuíam concessões de energia elétrica. Entre as negociações, estava a tarefa de convencer o Governo Federal a deixar a Light explorar a força hidráulica de cursos d’água que atravessavam mais de um estado. “Eles foram bem aventureiros e com uma visão de negócio fantástica, ao tomar a decisão, no final do século XIX, de vir para um País como o Brasil, novo e que pouca gente tinha informação, para criar essa infraestrutura”, comenta o diretor da Light.

As autoras Lobo e Levy apontam que, em setembro de 1899, a Light passou a negociar com o Governo Federal a revisão do contrato para que pudesse explorar também a iluminação elétrica. A primeira concessão que permitia a exploração da energia elétrica por força hidráulica foi feita a William Reid & Cia pelo período de 15 anos. Em janeiro de 1905, Mackenzie conseguiu a transferência dela para a Rio Light.

“Quando eles chegaram ao Rio de Janeiro, as ruas eram iluminadas por gás. A primeira grande visão de negócio foi começar obras de geração de energia”, conta Pinto. No mesmo ano em que recebeu a licença, a Rio Light deu início à construção da Usina de Fontes, em Piraí. Em 1910, a companhia passou a deter o controle do capital da SAG e, em pouco tempo, as concessões existentes foram adquiridas e as empresas cooptadas.

Esse pedaço da história conta também o fim da profissão dos acendedores de lampião. O progresso não permitia mais uma atividade tão arcaica. No dia 31 de dezembro de 1933, segundo arquivos da Light, quando ainda existiam 490 combustores em subúrbios cariocas, os acendedores apagaram a chama do último lampião, deixando saudade e eternizados na música de Inezita Barroso, Lampião de Gás: “Lampião de gás quanta saudade você me traz. Da sua luzinha verde azulada que iluminava a minha janela.” A iluminação a gás teve 79 anos, nove meses e sete dias de existência, segundo as coordenadoras do livro Estudos sobre a Rio Light, e foi substituída por lâmpadas elétricas em arco ou incandescentes. “O gás teve outro destino, no consumo residencial”, narra Pinto.

A entrada no século XX representa a chegada de grandes empresas estrangeiras. Em São Paulo, além da Light, houve também a americana American & Foreign Power Co. – Amforp, do grupo General Electric e criada exclusivamente para atuar no exterior.

A Light estava como uma avalanche comprando licitações de vários serviços públicos no eixo Rio-São Paulo. A Amforp, então, investiu na compra de empresas já existentes em outras localidades, como Recife (PE), Porto Alegre (RS), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Maceió (AL), Natal (RN) e Vitória (ES). Na capital paulista, em 1927, cooptou a CPFL e foi responsável pelo desenvolvimento no interior também.  

Por um período de quase 30 anos, a partir de 1900, o foco passou a ser expansão da energia elétrica e houve um processo de desenvolvimento do tipo de iluminação e sistemas usados. “A iluminação pública deu um salto de qualidade no desenvolvimento do município. Na época era um pouco diferente, primeiro a infraestrutura e depois o desenvolvimento urbano. A Light chegava com sua rede, instalava os postes e em seguida vinha o desenvolvimento da região. Ao contrario de hoje em dia, que as pessoas chegam e fazem gato”, analisa o diretor da empresa.

 A capital paulista comemorou a construção da represa de Guarapiranga, em 1908, e de usinas hidrelétricas, como Edgard de Souza e Rasgão, em Santana do Parnaíba, além da construção da Usina Henry Borden, em Cubatão, cuja primeira máquina entrou em operação em 1926. “Entenderam que era fundamental ter a fonte de geração para a distribuição de energia”, conta Pinto.

Em Brasília, o urbanista Lúcio Costa conta que, na década de 1950, as lâmpadas fluorescentes, as de mais alta eficiência luminosa para a época, eram montadas e projetadas de acordo com princípios bastante avançados da luminotécnica. As lâmpadas a vapor ainda estavam sendo desenvolvidas e não eram tão boas com relação à reprodução de cores. Ainda.

 

A era dos postes

Os charmosos postes da Light deixaram a cidade com um ar de imponência, a partir de 1927. Alguns postes antigos, que ainda serviam à iluminação a gás, foram adaptados e muitos outros tiveram de ser confeccionados nas oficinas da empresa para cobrir a cidade. Hoje chamados de “São Paulo Antiga”, foram fabricados de forma artesanal com ferro fundido, recebiam brasões pintados de dourado que remetiam à República brasileira, armas ou mesmo flores estilizadas em ferro.

Neste período, deu-se o desenvolvimento das lâmpadas de descarga em atmosfera de gás, incluindo as lâmpadas utilizando vapor de mercúrio, a altas e baixas pressões, e as lâmpadas utilizando vapor de sódio, igualmente a altas e baixas pressões. Mas as primeiras aplicações seriam feitas na década de 1930, segundo o comitê de Distribuição (CODI), no relatório Substituição de Lâmpadas Incandescentes no Sistema de Iluminação Pública, de 1988.

“Sabemos por dados históricos que por volta de 1931 foram desenvolvidas as primeiras lâmpadas de descarga e, depois
disso, a tecnologia incandescente. Nessa época, a lâmpada incandescente não tinha a mesma eficácia da de hoje, que ainda é considerada muito baixa”, detalha o engenheiro da GE, Luciano Rosito. Os níveis de iluminação dessas primeiras lâmpadas incandescentes não eram bons: “tinham níveis pouco melhores que os de uma vela. Elas passaram por uma evolução ao longo do tempo em termos de características construtivas e de eficiência”, complementa.

Foi apenas na década de 1960 que as primeiras aplicações das lâmpadas a vapor de sódio a alta pressão e a multivapores metálicos ganhariam espaço crescente nas aplicações de iluminação pública, de acordo com informações do mesmo relatório do CODI.

Também nesse período o presidente Carlos Lacerda passou a dar maior atenção aos contratos: “ele estava começando a se incomodar com o acúmulo de concessões nas mãos de uma empresa canadense. A Light então perdeu concessão de transporte público, telefonia e gás, ficando basicamente com energia elétrica, fornecendo eletricidade”, declara Pinto.

“A reestruturação no setor de energia elétrica nos anos 1960 influenciou profundamente a história da concessionária canadense no Brasil. A criação da Eletrobras em 1962 refletiu a nova orientação governamental ligada ao incremento da produção de energia elétrica no país, marcando o início da intervenção estatal no setor”, escreveram as autoras do livro Estudos sobre a Light.

A empresa encerrou suas atividades em solo paulista em 1970 – durante o período de ditadura, em que o governo simplesmente assumiu o controle da parte brasileira da empresa. Deu-se início ao período das estatais como Chesf, Uselp e Cesp.

Até 1996, grande parte dos sistemas de iluminação pública era mantida pelas concessionárias de distribuição. Com as privatizações e a falta de interesse das concessionárias em administrar esse serviço público, ele foi transferido para os municípios, que poderiam decidir administrar ou ceder a concessão.

O Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE) foi o órgão regulador e fiscalizador dos serviços de energia elétrica até a criação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), pela Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996. A agência tem como missão proporcionar condições favoráveis para que o mercado de energia elétrica se desenvolva com equilíbrio entre os agentes e em benefício da sociedade.

De acordo com a Constituição, a iluminação pública é responsabilidade dos municípios, de forma direta ou sob regime de concessão ou permissão. As concessionárias têm a obrigação de fornecer a energia necessária ao abastecimento de tais sistemas, debitando o consumo às prefeituras, com base nas tarifas fixadas pela Aneel.

Falando em tecnologias

Na tentativa de alcançar a perfeição na iluminação de ruas, foram feitos muitos testes. “Praticamente todos os tipos de lâmpadas foram utilizados, sendo que muitas tecnologias de forma inapropriada, seja deixando a lâmpada exposta ao tempo, seja por sua aplicação incorreta”, explica Rosito. Para fazer uma comparação, em 1901, desenvolveu-se a lâmpada a vapor de mercúrio a baixa pressão. Em 1908, foi a vez da lâmpada a vapor de mercúrio a alta pressão. A lâmpada a vapor de sódio de alta pressão chegou em 1931. A de baixa pressão é de 1933 e em 1941  chegou a lâmpada mista.

“A lâmpada a vapor de mercúrio a alta pressão foi amplamente utilizada por sua tecnologia ter se tornado acessível e produzir luz branca. Apesar de ter surgido antes, a lâmpada a vapor de mercúrio a alta pressão é mais eficiente que a lâmpada mista, tendo como diferença a utilização do reator”, conta o engenheiro da GE. Por não utilizar reator, a lâmpada mista também foi bastante difundida, mas oferece menor vida mediana e eficácia, continua o profissional. No início, a lâmpada a vapor de sódio não estava padronizada e havia diferença entre características elétricas dos reatores, analisa Rosito, que conta ainda que levou algum tempo a partir da criação da lâmpada de sódio até ela tornar-se uma opção viável economicamente para substituir outros tipos de lâmpadas e existir intercambiabilidade entre os fabricantes.

Depois deste período em que existiram muitas inovações, deu-se início a fase de aprimorar o processo, o momento de “maturação” da tecnologia, como define o funcionário da GE, esse avanço se deu em termos de lumens por watt. “As lâmpadas a vapor metálico e suas diversas variações e tecnologias de construção também foram uma evolução das lâmpadas de descarga”, diz. Hoje, existem lâmpadas a vapor metálico com tubo cerâmico que garantem melhor estabilidade da temperatura de cor, eficácia e reprodução de cores. “Houve também uma grande evolução na eficiência das luminárias públicas e melhoria na distribuição luminosa”, detalha Rosito.

Incandescente, halógena, fluorescente linear, lâmpada mista, lâmpada a vapor de mercúrio, lâmpada a vapor de sódio de alta pressão foram algumas das tecnologias mais utilizadas em iluminação pública. O processo pode parecer muito demorado, mas existe uma certa demora entre o desenvolvimento da tecnologia e sua aplicação prática em campo. “Além disso, há um tempo de evolução e melhoria da tecnologia”, define o engenheiro da GE.

Por muito tempo, mesmo sem os estudos necessários de luminotécnica para criar o sistema de iluminação pública eficaz, equalizando a conta entre custo e benefício, segundo Rosito, comparados aos nossos padrões atuais, certamente não era um sistema eficiente. “Vale ressaltar que a necessidade de iluminação naquela época era outra, assim como os níveis de luz para iluminação pública conhecidos hoje não eram experimentados naquele período“, diz o engenheiro.

Quem faz coro com ele é Marcos de Oliveira Santos, gerente da Osram para a linha de Led Profissional: “as lâmpadas a vapor de mercúrio ou vapor de sódio, até então, supriram bem as necessidades na iluminação pública por fornecerem uma grande quantidade de luz. Entretanto, hoje, já podemos contar com a tecnologia dos Leds, que consegue fornecer ainda mais luz com um gasto energético muito menor”.

A preocupação hoje não é apenas com a eficiência da iluminação. O meio ambiente também se encontra no alvo dos profissionais da &aa

cute;rea. Hoje, a tecnologia que permite uma melhor relação com o meio ambiente são os Leds, que contribuem para a redução de CO² do meio ambiente, além de significar economia no consumo de energia, que chega de 50% a 80% quando comparadas a tecnologias mais tradicionais. A vida útil das lâmpadas tem duração de até 50 mil horas, reduzindo gastos com manutenção. “As luminárias de Led geram uma luz branca, com alto IRC e podem ser dirigidas às áreas que se deseja iluminar, reduzindo o desperdício de luz e também a contaminação luminosa do ambiente e seus arredores”, explica Rosito.

A aplicação em larga escala já vem sendo realizada em alguns países. No Brasil, em 2010, a Rua Avanhandava, no centro de São Paulo (SP), foi uma das primeiras do país a receber luminárias a Led, gerando uma economia de até 46% no consumo de energia elétrica. Esta iniciativa foi seguida por outras concessionárias, como foi o caso da EDP Bandeirante, que fez a substituição de 59 pontos de iluminação pública convencional pelo novo sistema.

Outro exemplo mais recente é a Rua do Arouche, também na capital paulista, que recebeu uma nova iluminação em maio de 2011. Dez postes tiveram as lâmpadas convencionais substituídas por luminárias de diodos emissores de luz brancos. Anteriormente, as lâmpadas a vapor de sódio duravam até quatro anos e consumiam aproximadamente 280 W de potência (considerando também as perdas com o reator), valor muito superior aos 156 W da nova solução, que tem vida útil de 11 anos, quando usada 12 horas por dia, explica Santos, da Osram. Isso equivale a uma economia de até 44% na energia. “Com todos estes dados, posso afirmar que a utilização dos Leds na iluminação pública já é uma realidade”, diz o gerente da empresas.

A questão quanto ao emprego de Leds é saber avaliar as características técnicas do produto para garantir a sua eficácia, durabilidade e baixo consumo ao longo do tempo.  

No início do século XIX, a iluminação pública contava com poucos lampiões em ruas específicas. Hoje, no Brasil, existem cerca de 15 milhões de pontos de iluminação pública, dos quais 9,5 milhões precisam ser renovados e três milhões necessitam de novas instalações, segundo a Eletrobras. Essa situação indica que a história da iluminação pública está bem longe de ter ponto final. Precisa ser reescrita diariamente, pois sua importância vai além do embelezamento da cidade. Trata-se de peça fundamental para a segurança pública.

 

Pesquisa

  • CODI, 1988 – Substituição de Lâmpadas Incandescentes no Sistema de Iluminação Pública – Relatório SCPE.33.01 de 13/10/1988. Comitê de Distribuição (CODI), Abradee, Rio de Janeiro, 51p.

 

  • Livro Estudos sobre a Rio Light – coordenação Eulália Maria Lahmeyer Lobo e Maria Bárbara Levy. Rio de Janeiro, 2008, 700p.

 

 

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