A transição energética é um dos desafios centrais do setor elétrico no século XXI. Muito se fala sobre a substituição de combustíveis fósseis por fontes renováveis, a digitalização dos sistemas energéticos e a descentralização da geração. No entanto, para que essa transição seja realmente transformadora, é fundamental que ela também seja justa e inclusiva. Isso significa garantir que todas as pessoas tenham acesso não apenas à energia limpa, mas também às oportunidades que esse novo modelo oferece.
Infelizmente, a desigualdade de gênero ainda persiste no setor energético. Segundo a Greener (2024), 35% das empresas de tecnologia fotovoltaica no Brasil não possuem mulheres em suas equipes técnicas, e apenas 7% das mulheres do setor atuam em engenharia ou projetos. Essa sub-representação não apenas compromete a diversidade de ideias, mas também limita o potencial de inovação e a capacidade do setor de atender às demandas de um mercado em rápida transformação.
Projeto “Energizando a Equidade”
Para mudar essa realidade, em novembro de 2024 teve início o projeto “Energizando a Equidade: Meninas e Mulheres Impulsionando a Transição Energética”, uma iniciativa financiada pelo CNPq e que conta com um orçamento de R$ 933.480,00. O projeto tem como objetivo capacitar e inspirar meninas e mulheres a ocuparem espaço na transição energética, promovendo maior diversidade e equidade no setor.
Com atuação no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, a iniciativa impactará diretamente 142 mulheres e beneficiará aproximadamente 5.521 estudantes da rede pública. Agora, em abril de 2025, o projeto entra em uma nova fase crucial: o início das oficinas práticas sobre energias renováveis. Essas oficinas vão abordar temas como geração solar fotovoltaica, eficiência energética e gestão inteligente da energia, além de promover reflexões sobre equidade de gênero no setor.
Um convite para uma transição energética mais inclusiva
A transição energética só será bem-sucedida se for acessível a todos. Isso inclui não apenas a distribuição da energia de forma justa, mas também a democratização do conhecimento e das oportunidades no setor. Ao integrar educação, capacitação técnica e conscientização, o projeto “Energizando a Equidade” busca enfrentar os desafios da desigualdade de gênero e fomentar uma nova geração de profissionais comprometidos com um futuro mais sustentável e diverso.
A iniciativa está alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), contribuindo para a igualdade de gênero (ODS 5), o acesso à energia limpa e acessível (ODS 7) e ações contra a mudança climática (ODS 13), conforme destacado pelo Relatório Anual das Nações Unidas no Brasil (ONU BRASIL, 2023).
Como profissionais do setor de energia, temos o dever de não apenas apoiar, mas liderar iniciativas que promovam uma transição energética justa e inclusiva. Projetos como este demonstram que a equidade de gênero não é um complemento, mas sim um pilar fundamental para o sucesso da transição energética no Brasil.
Referências
GREENER. Estudo Estratégico Geração Distribuída Mercado Fotovoltaico. 2024. Disponível em: https://www.greener.com.br/estudo/estudo-estrategico-geracao-distribuida-2024/. Acesso em: 1 abr. 2024.
ONU BRASIL. Relatório Anual das Nações Unidas no Brasil 2022. 2023. Disponível em: https://brasil.un.org/sites/default/files/2023-03/ONU_Brasil_Relatorio_Anual_2022.pdf. Acesso em: 4 maio 2024.
Sobre a autora:
Aline Cristiane Pan é Doutora em Energia Solar Fotovoltaica e Professora na UFRGS, onde
coordena o Grupo de Pesquisa em Transição Energética. Co-fundadora da Rede Brasileira
de Mulheres na Energia Solar, tem mais de 25 anos de experiência no setor.