O papel da conversão na mobilidade elétrica no Brasil

Por: Adriano de Andrade Bresolin

A busca pela descarbonização no segmento de mobilidade tem impulsionado grandes empresas e instituições em todo o mundo, que realizam pesquisas e projetos pilotos que viabilizem a transição energética sustentável neste segmento. Além da indústria de veículos híbridos e elétricos, uma alternativa que vem sendo buscada no Brasil e em outros países do mundo é a conversão de veículos à combustão em carros elétricos ou híbridos. 

Com mais de 120 milhões de veículos em circulação, sendo apenas cerca de 7% deste total de veículos elétricos e híbridos, a conversão de automóveis movidos à combustão em veículos elétricos/híbridos surge como uma alternativa promissora para acelerar a descarbonização deste importante segmento nacional. 

Em busca de contribuir para o desenvolvimento sustentável e a redução da dependência de combustíveis fósseis, visando uma transição energética segura e viável, a CELESC (Centrais Elétricas de Santa Catarina), por meio o programa de Pesquisa e Desenvolvimento e Inovação da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), deu início, em 2020, ao projeto “Converte – Conversão de veículos para tração elétrica”

Com o apoio operacional da FEESC (Fundação Stemmer para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação), o projeto Converte desenvolveu sistemas de conversão de veículos a combustão para tração elétrica, resultando na implementação bem-sucedida de quatro protótipos: A Fiat Fiorino Elétrica, Fiat Strada Elétrica, o Renault Kwid Híbrido e o Renault Kwid Elétrico com powertrain nacional. 

Rua com carros

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Veículos convertidos pelo projeto Converte

Um modelo Experimental – com os mesmos benefícios dos veículos elétricos comerciais

O motor não ronca, mas o coração acelera! A experiência sensorial é intensa: a resposta ao acelerar é imediata – torque instantâneo -, e a ausência de vibração mecânica redefine a conexão entre condutor e máquina. A Fiorino convertida – de gasolina para elétrica – se destaca pelo alto torque, maior potência, boa autonomia e principalmente, com zero emissões . 

O furgão, antes era um utilitário de entregas, que foi doado pela Receita Federal ao IFSC – Instituto Federal de Santa Catarina para ser utilizado no projeto de conversão. Obsoleto, poluente e com destino certo para o descarte, este veículo foi completamente transformado, ganhando um moderno sistema de tração elétrica e se tornando um modelo experimental que carrega consigo o lema do projeto “Uma nova vida sem emissões”. 


Carro estacionado na frente de um caminhão

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Carro com capô aberto

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Fiorino e Strada convertidas para tração Elétrica

A Fiorino Elétrica recebeu um powertrain importado de 60 kW, enquanto a Strada Elétrica foi equipada com um powertrain nacional WEG de 46 kW (CVW-500), ambos de ímã permanente. A banco de baterias de 40 kW – 350V equipa tanto a Fiorino quanto a Strada e foi totalmente construído no laboratório de mobilidade elétrica do IFSC – EMoL, com células N.M.C (Níquel, Manganês, Cobalto).

A Inovação – O primeiro Kwid híbrido do Mundo

Já os veículos do tipo Kwid tinham outro propósito – a busca por um veículo elétrico de baixo custo. O veículo Kwid foi escolhido devido ao seu peso ser baixo em relação aos outros carros vendidos no Brasil – aproximadamente 800 kg. 

O Kwid totalmente elétrico, com powertrain nacional, foi concebido com motor indução WEG de 29 kW e uma bateria de 150 V (LifePO4) que garante uma autonomia de aproximadamente 120 km, ou seja, um veículo urbano. 

Outro grande desafio do projeto Converte foi o desenvolvimento do primeiro Kwid híbrido do mundo com a inserção de dois motores – tipo axial – nas rodas traseiras. Com pico de potência de 16 kW em cada motor, a nova tração traseira permite que o Kwid arranque no modo elétrico e ande até uma velocidade de 60 km/h. Após esta velocidade o sistema passa automaticamente para a tração a combustão. 

Deste modo, o Kwid híbrido possui três motores – um à combustão na frente (Flex – etanol e gasolina) e dois elétricos nas rodas traseiras. A bateria de 10 kWh permite uma autonomia no modo elétrico de até 70 km e o veículo foi concebido no modo Plug-in, ou seja, com carregamento da bateria direto de eletropostos além da regeneração tradicional. 

Carro com capô aberto

Kwid Híbrido com motor axial nas rodas traseiras
Mala de carro

Bateria de 10 kWh, um veículo urbano de baixo custo

Parcerias – fundamentais  para o sucesso

Foram parceiros do projeto à Assembleia Legislativa de Santa Catarina (ALESC) e o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), neste quesito o projeto atendeu o objetivo de democratizar e incentivar a utilização de veículos elétricos na frota pública. Vale salientar que na época de execução do projeto (2020-2023) ainda não havia o efeito BYD no mercado de veículos elétricos do Brasil. Este fato demonstra o pioneirismo do projeto Converte.

Pelo seu impacto na economia verde e sustentável, o Projeto Converte foi destaque internacional, sendo convidado a participar da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP28), realizada em novembro de 2023, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde a CELESC apresentou o projeto na área de eficiência energética e contribuição a transição energética.

Diversas empresas contribuíram para a execução do projeto, dentre elas vale destacar a participação da WEG Drives & Controls – Automação  e a Fueltech. 

Infraestrutura e Treinamento – Bancadas Didáticas de Mobilidade Elétrica

Um marco importante no desenvolvimento do projeto foi a aquisição e instalação de bancadas didáticas de mobilidade elétrica. Esses equipamentos representam um avanço significativo na capacitação de profissionais para o setor de mobilidade elétrica, permitindo treinamentos técnicos avançados em sistemas elétricos veiculares.

Baseadas na tecnologia da Beifang – maior empresa chinesa de treinamento em automobilística da China, as bancadas possibilitam a realização de estudos práticos sobre motores elétricos, inversores, gerenciamento de baterias e infraestrutura de recarga.

Além do impacto direto na formação acadêmica, essas bancadas fortaleceram as atividades de pesquisa e desenvolvimento do IFSC, apoiando novos projetos de Ensino, Pesquisa e Extensão. 

Uma imagem contendo no interior, edifício, bagagem, mesa

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Bancadas Didáticas Beifang. Adquiridas pelo Projeto Converte – IFSC/ CELESC / ANEEL

Inovação continuada – Produção Nacional

Atualmente, o laboratório EMoL desenvolve o projeto Converte II, fruto da também da parceria entre CELESC/ANEEL, IFSC e FEESC. O projeto Converte II visa validar a conversão de veículos para aplicações comerciais leves tipo 2, assegurando desempenho, durabilidade e viabilidade econômica em condições reais de uso. 

Com previsão para término em 2027, dois veículos operacionais usados na manutenção de redes de energia da CELESC serão convertidos para 100% elétricos, enquanto um terceiro veículo será convertido para um sistema híbrido.

O Converte II tem como objetivo fornecer dados concretos sobre a viabilidade técnica e econômica da eletrificação de frotas operacionais das concessionárias de energia elétrica, servindo como referência para outras empresas.

Uma Contribuição e Opção para Transição Energética Brasileira

Além da conversão veicular, o laboratório EMoL-IFSC tem como visão contribuir para o desenvolvimento da mobilidade elétrica no Brasil, integrando pesquisa acadêmica e inovação industrial.  Com o apoio da CELESC/ANEEL e de diversos parceiros institucionais e comerciais, o projeto Converte demonstrou na prática que “sim”, é possível converter veículos à combustão para tração elétrica com custos economicamente viáveis se feitos em produção de larga escala. O exemplo a se seguir é o ramo de conversão de veículos para “gás natural” que atualmente atende a uma demanda de mais de 90 mil conversões ano. A certeza principal é que o futuro é elétrico, cabe a nós brasileiros encontrarmos a melhor maneira de fazer a transição energética dentro das características e peculiaridades deste país continental chamado Brasil.

Sobre o autor:

Adriano de Andrade Bresolin é professor titular do Instituto Federal de Santa Catarina, possui doutorado em engenharia elétrica e coordena o laboratório de mobilidade elétrica – Emol

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