A boa prática dos cuidados com a nossa saúde estabelece a necessidade de realizar um acompanhamento médico preventivo ao longo de toda a vida. Esse acompanhamento é iniciado logo no início do nosso processo de formação, pelos exames de pré-natal. Depois que nascemos, os bebês são levados com frequência ao pediatra para acompanhar sua evolução e, com o passar do tempo, precisamos realizar exames de rotina para avaliar a evolução das condições de saúde.
O nosso bem-estar e qualidade de vida é muito dependente dessa rotina, principalmente pela possibilidade de identificar, de forma precoce, problemas que são mais fáceis de serem tratados em sua fase inicial.
Com o sistema elétrico não é diferente. Tratando especificamente do tema das redes subterrâneas, vou exemplificar esse “acompanhamento médico” a ser atribuído para os cabos elétricos de média tensão, existentes nessas instalações.
Durante a sua concepção, o “pré- natal” desse acompanhamento deve estar relacionado ao controle de qualidade na fabricação. É importante saber questões como o método de extrusão e o controle da vulcanização da isolação, pois são nessas etapas que problemas e imperfeições podem ser introduzidos no cabo, ocasionando falhas precoces.
Logo após o seu “nascimento”, os ensaios de rotina, ainda na fábrica, devem ser realizados de modo a controlar a qualidade do resultado da fabricação. Amostras do lote produzido devem ser selecionadas e os ensaios estabelecidos nas referências normativas devem ser realizados para avaliar os aspectos construtivos dos seus principais elementos. O próximo ponto importante de verificação, e que pouco é realizado, refere-se a verificações desenvolvidas no recebimento dos cabos em seu local de instalação.
Com o cabo ainda na bobina, recomenda-se a realização de ensaios amostrais na isolação e blindagem. Na isolação, o ensaio mais adequado é o de Tangente Delta e, para a blindagem, recomenda-se o ensaio de reflectometria.
A realização desses ensaios possui dois objetivos principais: o primeiro é verificar se não ocorreu nenhum tipo de problema ao longo do transporte, carga e descarga das bobinas de cabos, que por ventura podem ter ocasionados algum tipo de dano; o outro refere-se à criação de uma referência para acompanhamento futuro da evolução da condição de conservação na qual o cabo se encontra.
Logo após a instalação, os cabos devem ser comissionados para verificar se não ocorreu nenhum problema nesse processo como tração excessiva, curvatura com raio muito reduzido ou corte na capa externa. Nesse caso, os ensaios não podem ser amostrais, devendo contemplar 100% dos cabos instalados para evitar que ocorra problemas graves no momento em que for realizada a primeira energização.
Estes ensaios devem ser mais completos, pois são eles que garantirão plenas condições de operação e evitarão problemas ao longo da vida. Para a isolação, recomenda-se a realização dos ensaios de Tangente Delta e Descargas Parciais, além da própria tensão aplicada em corrente alternada. A blindagem deve ser ensaiada por meio da técnica de reflectometria e a capa externa com o ensaio de tensão aplicada específica para a capa.
Depois de iniciada a sua operação, os cabos entram no estágio de realizar os exames de rotina. Nos primeiros anos de vida, os intervalos de verificação podem ser maiores, porém, passados alguns anos, recomenda-se que anualmente sejam realizados ensaios para verificar sua condição de conservação.
A importância desse acompanhamento reside em dois pontos principais. Primeiro porque falhas nos cabos podem ocasionar danos graves nas instalações e até mesmo em pessoas. O segundo ponto é que uma interrupção não programada no fornecimento de energia causa prejuízos muito elevados.
Portanto, esse é um investimento que apresenta grande retorno para a operação, tanto no aspecto financeiro, quando no aspecto de bem-estar dos envolvidos. E assim segue a vida onde o departamento de saúde do setor elétrico mantém a operação das instalações em plenas condições de desempenhar as suas atividades.