Nadando contra a corrente

Por Sergio Roberto Santos*

A norma ABNT NBR 5419:2015 – Proteção contra descargas atmosféricas apresenta uma série de medidas para evitar danos às instalações elétricas e seus equipamentos eletroeletrônicos.

Para aplicar estas medidas de forma correta é necessário, preliminarmente, apagar algumas ideias preconcebidas que nunca funcionaram, mas persistem nas cabeças de muitos profissionais.

Uma delas é associar as Medidas de Proteção contra Surtos (MPS), descritas na parte 4 da norma, unicamente à especificação da corrente do Dispositivo de Proteção contra Surtos (DPS). Ainda hoje existe a ideia de que quão maior a corrente de surto do DPS, melhor ele protegerá os equipamentos.

A ABNT NBR 5419:2015 considera que a proteção de um equipamento está garantida quando ele se encontra adequadamente dentro da Zona de Proteção contra Raios 3 (ZPR 3) ¹, ou, em casos muito críticos, ZPRs de índices maiores. Por este motivo, a proteção contra sobretensões transitórias depende, entre outras MPSs, de colocar o objeto da proteção dentro da ZPR adequada.

A função do DPS é equipotencializar, da melhor forma possível, condutores normalmente energizados na fronteira entre duas ZPRs, minimizando o surto originado em uma ZPR mais exposta às sobretensões, ou sobrecorrentes, transitórias diminuindo seus valores à jusante da sua instalação.

Por isso os DPSs são classificados em três tipos, sendo totalmente equivocada a comparação entre DPSs de tipos diferentes.

Como exemplo, proteger o servidor da empresa, centro das suas operações, significa posicioná-lo dentro de uma ZPR 3, que pode já existir ou ser criada para este fim. Desta forma, percebemos também outro equívoco, considerar as partes 3 e 4 da norma completamente independentes.

Preste atenção no exemplo de uma tomada. Ela pode encontrar-se na ZPR1 ou ZPR2, neste caso, protegida respectivamente por um DPS tipo I ou II. Mas o componente eletrônico alimentado por esta tomada deverá estar na ZPR3, protegido por um DPS tipo III. A fronteira entre as ZPRs 2 e 3, neste caso, será formada pelo invólucro do equipamento. Tomadas e equipamentos são protegidos de forma diferente porque a suportabilidade a tensões impulsivas da tomada é, geralmente, diferente da suportabilidade dos equipamentos alimentados por ela.

Toda dificuldade encontrada na proteção contra surtos deve-se às complexidades na localização das ZPRS, cujos exemplos estão apresentados na parte 4 da própria norma.

A sugestão mais correta para quem quiser realmente entender como proteger as instalações elétricas, e seus equipamentos, é estudar as ZPRs e depois rever seus conceitos de DPSs. Após isto, os DPSs lhe parecerão mais fáceis, o custo com estes dispositivos se reduzirá e aumentará a eficácia da proteção contra surtos em seus próximos projetos.

Caso continuemos a especificar um DPS pensando apenas nos “kA” que ele vai conduzir nossos projetos, estaremos condenados ao fracasso, a menos que o Deus do Trovão tenha piedade de nós. Informações indispensáveis, como o nível de proteção (Up), a sua forma de onda e o local de instalação do DPS estão contidas na definição do seu tipo. Ao especificar um DPS a partir do seu tipo estamos determinando a maior parte do que é necessário nesta especificação.

Devemos escolher o tipo do DPS correto para aquele local da instalação, o que é muito fácil, e depois calcular qual deve ser a sua corrente, o que não é difícil. Se esta sequência não for seguida, não estaremos aplicando corretamente a ABNT NBR 5419:2015, e, aí, a proteção dependerá da sorte do projetista e de seu cliente.

¹ Ver o artigo “Zonas de proteção contra raios”, publicado nesta seção, na edição 114 da revista O Setor Elétrico.


*Sergio Roberto Santos é engenheiro eletricista e membro da comissão de estudos CE 03:64.10, do CB-3 da ABNT.

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