Edição 106 – Novembro de 2014
Por José Starosta – Consultor Técnico
Os aspectos quantitativos já não são novidades, os níveis cada vez mais baixos de volumes dos reservatórios, a geração térmica que sobe como nunca emporcalhando nossa matriz energética e a expectativa a médio prazo da operação das novas usinas fotovoltaicas, hidráulicas, eólicas e outras menos agressivas como a biomassa fecha o nosso horizonte, não atendendo ao que ora precisamos: energia limpa, confiável e preço adequado que não emperre ainda mais a nossa sofrida indústria. Durante este imbróglio já foram para o ralo valores da ordem de R$ 100 bilhões para sustentar o custo da geração térmica.
Enquanto surgem as novas histórias envolvendo o gigante de energia do Brasil, continuamos paralisados esperando a chuva chegar para salvar a nossa pele, só faltando os rituais oficiais de pajelança (alguns dizem que não faltam).
Enquanto nos olhamos com aquela cara de “o que é que eu fiz”, o clima continua inapelável sem as desejadas chuvas. Agora, passadas as eleições, as questões mais discutidas entre aqueles que dependem da energia para sobrevivência não é sobre quando, mas “como será o racionamento”. A preocupação estaria no modelo e as medidas que seriam adotadas e os impactos associados. Até abril teremos pouco tempo para pensar e trabalhar nestes aspectos.
Mais uma vez a crise pode nos mostrar que temos saídas, sendo a mais óbvia a eficiência energética. Assunto que, apesar de muito discutido, ainda é tratado como novidade e sobretudo medida ineficaz e às vezes citado como “medida lateral”. Parece que o tratamento deste assunto torna o interlocutor politicamente fraco, expondo a incompetência do modelo de política pública seguido. Infelizmente, dependemos destas políticas públicas para alavancar as iniciativas. Grandes planos e programas nacionais dependem de ações ministeriais e a movimentação da máquina é lenta, muito lenta e neste interstício entre equipes técnicas, sofremos mais ainda.
Os desafios aí estão. Alguns dos pontos mais comentados como possíveis soluções são:
- Mudança do formato do PEE (programa de eficiência energética das concessionárias), proporcionando investimentos aos consumidores que de fato consomem energia substituindo o investimento em baixa renda por instalações industriais;
- Mudança do valor de referência do fator de potência com redução de perdas elétricas;
- Definição de politica de financiamento para projetos de eficiência energética com taxas atraentes e solução para garantias;
- Tarifação diferenciada para os consumidores eficientes (penalizando os perdulários e/ou beneficiando os que racionalizam o consumo);
- “Destravamento” de leis e regras obsoletas como aquela que rege a geração de energia de “back-up” em condomínios multiusuários;
- Incentivo ao consumo de produtos e equipamentos industriais verdadeiramente eficientes. Política fiscal adequada;
- Redes inteligentes que monitorem os principais centros de consumos com gestão tempo real;
- Integração entre grandes consumidores e concessionárias sob os aspectos de curva de carga e consumo além da qualidade da energia;
- Outros.
Que as primeiras e últimas estrofes da mais famosa poesia do nosso Drummond possa inspirar a todos.
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Sozinho no escuro
Qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Eng. José Starosta
Consultor da revista O Setor Elétrico
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