Eletrocussão no pré-carnaval e o bloquinho da insensatez

Às vésperas do Carnaval, quando a população se preparava para celebrar e brindar a boa situação do país, as boas perspectivas, a paz e a tranquilidade, a boa governança, sobretudo, a honestidade e transparência de seus gestores públicos, os bons propósitos de juízes generosos que abrem as celas para os inocentes da nação, surge uma grande bomba e esta tem a ver com o nosso quintal. Apesar da gravidade do caso aos nossos olhos técnicos, parece ser apenas mais um daqueles casos em que ninguém assumirá as suas responsabilidades e, pior, não será evitada de fato a recorrência.

Não é de hoje que assistimos a uma desorganização generalizada no uso dos postes públicos, originariamente utilizados para abrigar os circuitos primários em seu topo, transformadores em alguns deles e circuitos secundários de alimentação das residências em baixa tensão. Sistemas de iluminação pública com transformadores, circuitos e luminárias também convivem bem na mesma estrutura. Sistemas de telecomunicações classicamente os utilizam também e assim foi durante décadas com respeito de limites e mesmo “lugares geométricos”, onde os componentes das diversas especialidades poderiam estar. Poderiam! Ocorre que, em um curto lapso de tempo, outras especialidades de sistemas de comunicação também tomaram conta dos postes, surgiram sistemas de TV a cabo, fibras óticas de aplicações e concessões em uma densidade nunca antes ocorrida. O emaranhado físico de cabos e afins lembra situações comuns de registros que circulam pelas redes sociais. Sorte que, ao menos, boa parte de nosso esgoto aqui no Brasil não corre a céu aberto.

O caos promovido por falta de gestão e de responsabilidades parece se estender aos sistemas congêneres como os postes específicos de iluminação pública que complementam os sistemas de iluminação já instalados nos postes compartilhados, sinalização viária e outros como aqueles que abrigam os malditos radares. Em construção metálica, ao contrário dos anteriores, que, na maioria, são de concreto, estes são merecedores de cuidados especiais. A lamentação de todos com o acidente e a morte do rapaz não terá nenhum efeito se as providências não forem tomadas. Alguns pontos de reflexão:

  • A quais normas os serviços de projeto, instalação e manutenção de sistemas de iluminação pública e congêneres (CFTV, Semáforos, radares, placas iluminadas, etc.) estariam relacionadas? Estas normas estariam atualizadas e garantiriam a proteção adequada? Normas de Iluminação pública, como a ABNT NBR 5101, estão focadas em atendimentos às condições fotométricas das vias, outras estão relacionadas às próprias luminárias quanto a aspectos de desempenho e mesmo robustez eletromecânica e componentes como a portaria 20 do Inmetro.
  • A ABNT NBR 5410 – Instalações elétricas em baixa tensão, apesar de contemplar todas as premissas e prescrições a estes tipos de instalações, tem em seu início uma restrição de aplicabilidade em sistemas de iluminação pública. Poderia ao menos inspirar e, porque não, ser copiada nestas aplicações em seus aspectos de especificação de linhas elétricas, proteção contra sobrecargas, mesmo proteção atmosférica e DPSs, curto-circuito e, principalmente, proteção contra choques elétricos. Cidadãos leigos, incluindo nossas crianças, circulam nestas áreas, por vezes molhadas e, às vezes, até interagem no acionamento do semáforo de pedestres quando o sistema está operante e o botão ainda não foi roubado. Como estariam as condições de isolamento de um botão de acionamento de semáforo de pedestres ali mesmo na Rua da Consolação em dia de chuva?
  • Os sistemas instalados estariam seguindo quais recomendações?
  • Será que os responsáveis pelos serviços (entenda-se executor contratado e subcontratado, mantenedor e fiscalização) estão habilitados para tal? Todos possuem engenheiros eletricistas em seus quadros e que exercem o controle e fiscalização?

A sombra da indiferença e da incompetência toma conta da rua da Consolação em São Paulo, paradoxalmente, uma avenida de luz (a rua é referência por concentrar lojas especializadas em equipamentos de iluminação). Indiferença de tudo aquilo que consideramos importante sob os aspectos técnicos e de responsabilidade. Justificativas e desculpas a população ouve o tempo todo, aliás, das mais imbecis possíveis. Cidade linda não é o suficiente, são necessários segurança e profissionalismo em todos os aspectos. Chega de gambiarras.

Agradecimento ao professor Isac Roizemblatt pelas sugestões técnicas ao texto.

 

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