De olho na agenda regulatória, T&D Energy se consolida como um dos principais eventos para discutir a infraestrutura elétrica do país

Por: Matheus de Paula

4ª edição do T&D Energy foi realizada nos dias 2 e 3 de abril, no Novotel Center Norte, em São Paulo, e reuniu cerca de 500 participantes ao longo dos dois dias de evento

Nos últimos meses, certos temas dominaram as discussões no setor elétrico: curtailment, a tão sonhada reforma do setor, a abertura do mercado livre para consumidores de baixa tensão e a redução de subsídios para segmentos estratégicos. De olho nessa agenda, quem participou da 4ª edição do T&D Energy pôde acompanhar de perto as reflexões de diferentes atores do setor sobre esses desafios – já no painel de abertura do evento.

Intitulado “Regulação e Desenvolvimento Tecnológico: Motores da Inovação no Setor Elétrico Brasileiro”, o painel contou com a participação de Antônio Varejão de Godoy (vice-presidente de Operações e Segurança da Eletrobras), Isabela Sales Vieira (diretora de Programa do Ministério de Minas e Energia), Marney Antunes (vice-presidente de Distribuição da Cemig) e Thais Barbosa Coelho (superintendente-adjunta de Concessões, Permissões e Autorizações dos Serviços de Energia Elétrica da ANEEL), com moderação de Luiz Fernando Vianna, COO da Thymos Energia.

Responsável pela reforma do setor elétrico, o MME foi representado pela diretora de programa, que traz em seu currículo a experiência de mais de 18 anos na área de regulação da ANEEL, Isabela Vieira. Em sua primeira intervenção no debate, Isabela destacou o papel estratégico do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), responsável por articular diferentes instituições e promover um alinhamento técnico e institucional em torno dos principais temas da reforma.

“O Ministério de Minas e Energia assumiu a responsabilidade de tratar desse tema, que sabemos ser urgente e que exige ações estruturadas. Foi criado um grupo de trabalho no âmbito do CMSE, mas não com aquele viés de que grupo de trabalho é sinônimo de inação. A proposta é reunir todas as instituições do setor para discutir soluções, ouvir agentes, empresas, associações e começar a desenhar, de forma coordenada, um passo a passo para minimizar os impactos desse problema. Tudo isso respeitando as competências de cada órgão, como a ANEEL, o ONS e a EPE, e considerando os aspectos econômicos, regulatórios e tarifários envolvidos”, ressaltou a diretora de Programa do MME. 

Dando continuidade ao painel, o vice-presidente da Eletrobras Antônio Varejão, trouxe uma reflexão sobre o Curtailment – a limitação da geração de energia, mesmo quando há oferta disponível, Segundo ele, o fenômeno, que também acontece em outros países com alta geração de renováveis, coloca o setor elétrico diante de um dilema: como garantir a segurança do sistema sem comprometer a atratividade para novos investimentos?

“O desafio é encontrar esse ponto de equilíbrio entre o modelo que o investidor projetou e a segurança do sistema. A sociedade, o consumidor e o investidor precisam estar contemplados, para que não se tenha apenas a visão da confiabilidade, mas também a continuidade dos investimentos, especialmente em fontes renováveis”, afirmou o vice-presidente de Operações e Segurança da Eletrobras.

Em um segundo momento, o executivo ressaltou que é papel do governo, das agências reguladoras e do operador do sistema construírem esse caminho junto com os agentes, preservando a estabilidade da rede sem inviabilizar projetos que são fundamentais para a transição energética. 

Mulheres à frente da transição energética 

Foco central das discussões que envolvem toda a cadeia de distribuição e transmissão de energia, a transição energética justa, inclusiva e equilibrada exige algumas quebras de paradigmas que norteiam o setor elétrico. Segundo a ANEEL, em 2023, as mulheres do setor representavam cerca de 20% dos cargos ocupados, o número ainda é menor quando comparado a posições de alta liderança, apenas 5,55%. Em resposta a esse desequilíbrio, o T&D Energy abriu espaço para o painel intitulado “Energia em transformação: da geração ao consumo na transição energética”, apresentado e moderado exclusivamente por mulheres.

Com diferentes vivências e olhares sobre os desafios e oportunidades para a transição energética, o painel contou com a participação de Camila Maciel (engenheira de Equipamentos HVDC da State Grid Brazil Holding), Cicéli Martins Luiz (executiva Agro da Cemig), Lilian Queiroz (diretora de Ativos de Transmissão da Eletrobras), Roberta Nanini (diretora de Regulação da Cemig) e Anne Caroline Santana (gerente de Desenvolvimento de Pessoas da Cemig), com moderação de Flávia Lima, sócia e diretora de conteúdo do Instituto O Setor Elétrico.

Em resposta à pergunta inicial realizada pela moderadora Flávia Lima, sobre como o Brasil pode garantir uma expansão de transição energética justa, a executiva da Eletrobras, Lilian Queiroz, destacou o papel do regulador no desenvolvimento de novas tecnologias e na promoção da sustentabilidade no setor elétrico. 

“Quando falamos em fontes intermitentes, como a solar e a eólica, é fundamental abordar a questão regulatória. O setor precisa de um arcabouço jurídico e regulatório robusto, que proporcione segurança aos investidores. Sem esse suporte, os investimentos não vêm. Hoje, faço parte do Comitê de Geração da ABDIB (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base), e temos discutido a infraestrutura do país de forma ampla, e a regulação sempre surge como um ponto central”, explicou Lilian.

Em complemento, a diretora de ativos da Eletrobras reforçou que as atualizações regulatórias também devem ser atendidas para demandas que visam modelos já presentes no setor. Segundo ela, “para viabilizar a modernização dos ativos existentes — especialmente das hidrelétricas que já estão com a vida útil física avançada — é necessário haver incentivos regulatórios. Caso contrário, esses projetos deixam de ser atrativos. Precisamos garantir que o ambiente regulatório acompanhe a evolução tecnológica e ofereça estabilidade, para que os investimentos, especialmente em fontes renováveis, continuem a chegar ao Brasil,” reforça. 

No encerramento do debate, as painelistas apresentaram o livro “Energia em Transformação – A Contribuição das Mulheres para a Transição Energética”. A obra reúne a voz e a experiência de 55 mulheres de diferentes áreas do setor elétrico, que juntas formam a autoria do livro para dialogar sobre a transição energética justa e inclusiva, com protagonismo feminino no centro do debate. As participantes do painel formam o time de organizadoras da publicação, a qual contou com o patrocínio das empresas EQTLAB, do Grupo Equatorial, Treetech, S&C Electric, Baur, Embark e Hitachi. 

Sobre o feito, a executiva da Cemig, Cicéli Martins, destacou que “o objetivo do livro é ser uma fonte de inspiração, seja para mulheres ou para homens, sobre como enfrentar e solucionar os diversos desafios que temos no sistema elétrico atualmente. A transição energética exige novas formas de pensar, mais inclusão e colaboração entre os agentes. Ao compartilhar nossas experiências e conhecimentos, mostramos que é possível construir um setor mais sustentável, inovador e representativo”, ressaltou Martins.

Resiliência de rede e mudanças climáticas

Da mesma forma que a agenda regulatória tem ocupado o centro das discussões do setor elétrico, outro tema que vem sendo discutido de forma enfática pelos agentes é a resiliência das redes elétricas frente às mudanças climáticas atuais. No segundo dia do T&D Energy, o painel “Do risco à resiliência: avanços e caminhos a percorrer em busca fortalecimento da rede na era das mudanças climáticas” trouxe importantes reflexões de transmissoras e distribuidoras de energia sobre os impactos dos eventos climáticos extremos. Além disso, destacou o papel de empresas parceiras do setor, como a Climatempo, no desenvolvimento de soluções para esses desafios. 

Somou ao debate, Beatriz Tavares (superintendente de Operação e Manutenção da Argo Energia), Bruno Isolani (diretor executivo de Operações da ISA Energia), Luciano Ritter (head da Vertical de Energia da Climatempo), e Marcos Campos, (diretor geral da EDP São Paulo). A moderação foi conduzida por Lucas Poersch (gerente de Vendas Brasil de Distribuição e Transmissão de Energia da Prysmian).

O painel se iniciou com o head da Vertical de Energia da Climatempo, Luciano Ritter, destacando a importância de se reconhecer e utilizar dados climáticos, mas ponderou que a maior parte dessas informações está concentrada em regiões com alta densidade populacional. “Isso faz sentido, no entanto, do ponto de vista da engenharia e da infraestrutura elétrica, essa não é a realidade, já que muitas das linhas de transmissão cruzam áreas remotas e com pouca cobertura de estações meteorológicas, como Mato Grosso, Pará e interior do Mato Grosso do Sul”.

Dada a importância do tema para o setor elétrico, cada vez mais dados têm sido coletados a fim de direcionar melhor os agentes em seus planejamentos. Para se ter uma ideia do impacto das mudanças climáticas, Ritter cita um caso prático ocorrido na área de concessão da EDP São Paulo. ”Em fevereiro de 2022, foram registrados cerca de 6 mil raios. Já em fevereiro de 2023, o mesmo mês em que ocorreram as chuvas extremas no litoral norte de São Paulo, esse número saltou para 41 mil raios. Isso mostra a importância de termos uma base histórica sólida para conseguir analisar variações, identificar tendências e planejar ações de reforço e reestruturação da rede elétrica” afirmou o meteorologista da Climatempo. 

Como se preparar para esse novo cenário climático? O diretor geral da EDP São Paulo, Marcos Campos, destacou os investimentos realizados pela distribuidora como uma estratégia de fortalecer suas áreas de concessão diante dos eventos climáticos extremos. Segundo ele, a empresa tem apostado em novas tecnologias, como self-healing (ferramenta que permite religar automaticamente trechos da rede elétrica com defeito, reduzindo os impactos das interrupções de energia elétrica) e a construção de novas subestações de energia. 

“Nossa grande aposta foi o self healing, que é a capacidade da rede de se reconfigurar automaticamente. Além disso, dobramos a construção de subestações de energia elétrica, uma a cada seis meses, o que nos trouxe maior capilaridade frente a esses desafios. Na última contingência, em que estivemos juntos inclusive, enfrentamos um pico de 170 mil clientes afetados. Desses, 80 mil foram restabelecidos automaticamente pela lógica do self-healing, sem nenhuma intervenção manual, em questão de segundos. Isso nos dá uma vantagem competitiva e uma resposta mais eficiente à sociedade”, disse o diretor geral da EDP São Paulo.

Negócios e networking 

Com 16 estandes, a feira de exposição do T&D Energy repetiu as edições anteriores e ofereceu ao público presente a oportunidade de conhecer as melhores e mais recentes inovações das principais empresas provedoras de tecnologia do setor elétrico, proporcionando o cenário ideal para novos negócios e relacionamentos e networking. 

“O evento, mais uma vez, foi excelente — tanto pela presença de público quanto pelo número e qualidade dos expositores. Já faz parte do nosso calendário anual de eventos. Conversando com todo o time de vendas que esteve aqui, todos conseguiram aproveitar bem, encontraram pessoas-chave e tiveram conversas relevantes. Valeu a pena participar”, destacou Lucas Fritoli, diretor de Marketing da Treetech.

A Prysmian Group destacou a relevância crescente do T&D Energy dentro do setor. “É um evento que está tomando cada vez mais corpo e ganhando representatividade. Algumas palestras e mesas-redondas foram muito interessantes, com temas bastante atuais. O que chama atenção é a diversidade de empresas presentes e, mesmo com atuações distintas, todas acabam convergindo para os mesmos pontos — como a resiliência de rede e o monitoramento de sistemas. Isso mostra um alinhamento geral do setor, mesmo sem uma coordenação explícita”, disse o diretor de vendas da Prysmian Group, Felipe Mottin.

Daniel Bento, CEO da BAUR do Brasil e BAUR USA Corp, destacou o nível de qualidade apresentado pelas palestras e painéis de debates. Segundo ele, “do ponto de vista técnico, a qualidade também foi excelente. Tivemos cases que contribuíram bastante com o setor, compartilharam experiências, e isso é algo que promove aprendizado. A partir desses relatos, temos um processo de melhoria contínua. Escutar os pares serve de inspiração para outros projetos”, pontuou.

Da mesma maneira pensa Alexandre Rios, Head de Vendas da Itaipu Transformadores. “Foram temas muito pertinentes, com um público qualificado. Profissionais que possibilitam um nível de debate muito rico, e palestras que, de fato, inflamam discussões importantes dentro do setor. A proposta é justamente essa: sair da esfera conceitual e ir para uma esfera prática, com muita aplicação real para os temas apresentados”.

Parceira desde a 1° edição do T&D Energy, a Roxtec avaliou positivamente o evento deste ano, destacando avanços em relação às edições anteriores. Para a empresa, houve uma evolução significativa na organização, na qualidade do conteúdo e, principalmente, no perfil técnico dos participantes.

“A estrutura está melhor, desde a disposição dos estandes até o fluxo de visitantes e serviços oferecidos. O público também se qualifica a cada edição — são profissionais com poder de decisão, que conhecem o setor e buscam melhorias reais. A Roxtec, com certeza, estará presente na quinta edição”, afirmou o diretor geral da Roxtec, Ronaldo Tarcha. 

Presente na 1° edição do T&D Energy e agora retornando para a 4ª, a SEL também constatou uma evolução significativa do evento. “Eu notei uma grande diferença entre a quarta edição e a primeira. Um público mais qualificado, do ponto de vista de conhecimento comercial e desenvolvimento de relacionamento. A organização do evento também foi bastante positiva, o compromisso com os horários, a agenda, os cuidados com os palestrantes e com a coordenação das mesas. Tudo isso foi feito em alto nível e, com certeza, vai contribuir para que o próximo evento seja ainda melhor”, disse o Gerente de Vendas da SEL, Eduardo Zanirato.

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