Coluna de fumaça!

Ed. 61 – Fevereiro de 2011

Por Dácio de Miranda Jordão

Via-se ao longe uma coluna de fumaça negra que se estendia a dezenas de metros de altura. Havia um movimento intenso de veículos de socorro a emergências: bombeiros, ambulâncias, cujas sirenes emitiam sons estridentes que se misturavam ao ambiente caótico que se estabeleceu naquela região. Menos de meia hora antes, tudo era paz e tranquilidade, quando, de repente, um estrondo seco e sinistro vibrou no ar, gerando uma onda de calor e destruição que devastou tudo que estava a trezentos metros dali: prédios, instalações, carros, tudo, tudo. Pessoas foram carbonizadas sem sequer terem tido tempo de procurar abrigo. Focos de incêndio se espalhavam pela indústria, gritos, pessoas em pânico corriam completamente perdidas de um lado para o outro.

Depois de controlada a emergência, fez-se um balanço da situação: vinte e dois mortos, mais de trinta feridos e prejuízos materiais que ultrapassavam a casa dos dois milhões de reais, sem considerar aqueles não mensuráveis, como o comprometimento da imagem da companhia, efeitos negativos psicológicos, etc.

A mídia ocupou grande parte de sua programação reportando o acidente, com tomadas de depoimentos no próprio local e levantamento de um histórico, quem, por sinal, não era muito honroso para a empresa, no que se refere ao cumprimento dos requisitos de segurança.

A empresa fazia todo o esforço para abafar o mais rápido possível o ocorrido, com o fim de minimizar o efeito danoso à imagem e às ações na Bolsa de Valores, rezando para que algum escândalo que envolvesse políticos corruptos surgisse na mídia (desses do tipo “escondendo dinheiro na cueca e na meia”) para afastar a atenção sobre o acidente.

Foi criada uma comissão para investigação e análise do acidente internamente na empresa, além das comissões externas, criadas por autoridades, como Ministério Público, Agência Nacional de não sei o quê… etc., etc.

Inquéritos e auditorias eram uma constante no dia a dia da empresa. Era gente entrando e saindo, perguntando e respondendo, anotando e fotografando, examinando e inspecionando, esbravejando e cochichando…

UM ANO DEPOIS…

Tudo parecia ter voltado ao normal. A indústria começava a se recuperar dos efeitos da tragédia. Algumas unidades foram reconstruídas, outras recuperadas; foi feita uma limpeza total do ambiente e as ações na Bolsa de Valores iniciavam sua retomada de crescimento.

Mas as famílias das vítimas ainda seguiam sua “via crucis”, pois não havia apoio efetivo da empresa nem das autoridades. Parentes e amigos se cotizavam para suprir essas famílias com o básico, enquanto as ações judiciais seguiam a passos de “tartaruga em estado de ressaca numa segunda-feira”.

Os relatórios da investigação do acidente apontavam culpa do empregado, que ele tinha se negligenciado em relação a procedimentos de segurança e a empresa tentava, com os seus advogados, livrar-se de qualquer implicação, seja proveniente de responsabilidade civil ou penal.

Que triste… Sabe-se, conforme a literatura especializada sobre segurança no trabalho, que mais de 90% dos acidentes são devidos a causas gerenciais, ou seja, responsabilidade da própria empresa.

Mas o que realmente aconteceu?

Na descrição do acidente, era explicado que havia um indicador de vazão que foi posicionado num local de difícil visibilidade, pois era congestionado com tubulações e estruturas, e o técnico tinha dificuldade de efetuar a leitura – falha de projeto. Por isso, depois de perder a esperança de ser atendido em suas inúmeras solicitações de modificar o posicionamento do indicador, providenciou uma iluminação extra, instalando uma lâmpada incandescente, em um bocal comum, alimentado por dois fios estendidos de uma tomada que havia nas proximidades. Essa lâmpada era acionada por um interruptor, também comum, que somente era ligado nos momentos de ser efetuada a leitura, por força da rotina de operação da unidade. A indústria, no entanto, trabalhava com produtos inflamáveis, aquela unidade era uma área classificada. A frequência de operação da lâmpada era de duas ou três vezes por semana, o que fazia a probabilidade de que houvesse uma explosão causada por esse interruptor ser relativamente baixa. Mas um dia aconteceu! E gerou essa tragédia que atingiu centenas de pessoas.

As principais falhas gerenciais seriam então:

1. O técnico não tinha treinamento sobre áreas classificadas;

2. A empresa não tinha implantado um sistema de gestão de mudanças;

3. A gerência de segurança no trabalho não tinha percepção do risco.

Este caso serve para mostrar como uma mudança operacional (de custo baixíssimo: pedaços de cabo elétrico, um interruptor, um bocal e uma lâmpada incandescente) pode ser precursora de verdadeiras catástrofes, que, por sua vez, causam danos sociais irreversíveis e destroem sonhos e projetos de centenas de pessoas.

Como um problema desse poderia ser detectado?

Simplesmente aplicando, de forma rotineira, a inspeção de instalações elétricas em atmosferas explosivas, conforme prevê a norma brasileira ABNT NBR IEC 60079-17, que é obrigatória de acordo com a NR 10, regulamentação do Ministério do Trabalho e Emprego.

Aliás, por falar em Ministério do Trabalho e Emprego, parodiando aquela música do Roberto Carlos, “Como vai você”:

Como vai você? Ministério do Trabalho e Emprego, como vai você?

Preciso saber da sua vida…

Peça a alguém (ou a Deus) pra me contar sobre os seus dias…

Anoiteceu e eu preciso só saber…

Onde está você?

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