Ainda sobre 2015

Edição 120 – Janeiro de 2016
Por Michel Epelbaum

Quando você, leitor, se deparar com esta coluna, já estará em 2016, talvez mais relaxado após as férias e implementando suas resoluções de ano novo.

Eu, escrevendo esta coluna no final de dezembro de 2015, ainda estou perplexo com este ano histórico, de exposição extraordinária de desvios de conduta e malfeitos, de distorções da realidade para benefício individual, de banho de realismo econômico após anos de decisões equivocadas. Se era para lavar a alma com banho de sangue e lama, faltou ter nos avisado antes.

E a lama do acidente da mineradora Samarco foi grande:

– Perdas para as comunidades: mais de dez pessoas mortas, muitos desabrigados, mais de 200 mil pessoas sem água em várias cidades de Minas Gerais e Espírito Santo;

– Perdas de ecossistema e biodiversidade – 15 km² de vegetação destruída, 663 km de rios afetados diretamente, nove toneladas de peixes mortos no Rio Doce, dezenas de quilômetros de praias no litoral do Espírito Santo contaminados – o Ibama estima em dez anos o tempo de recuperação do meio ambiente;

– Risco de falência da empresa, com produção parada, multas (R$ 367 milhões), indenizações (acordo de R$ 1 bilhão com governos e ministério público, mas as estimativas de perdas são de R$ 14 bilhões, motivo para ação civil pública de R$ 20 bilhões), perdas de mais de US$ 20 bilhões na bolsa de valores das acionistas da Vale e BHP Billiton com bloqueio de seus bens.

Sem mais clima para falar de impeachment, crise econômica, corrupção e acidentes, vamos falar do acordo climático da histórica COP21 (encerrada em Paris em 12 de dezembro), valendo a partir de 2020. Apesar da clara sensação de insuficiência, ele uniu pela primeira vez todos os 195 países no combate ao aquecimento global, o que o torna um avanço histórico. Os principais pontos foram:

Trata-se de um acordo relacionado à Convenção sobre Mudanças Climáticas de 1992 (menos comprometedor do que um protocolo ou tratado), com partes obrigatórias e outras recomendadas;

Teto de aumento de temperatura global “bem” abaixo de 2 °C, com esforços para atingir 1,5 °C acima dos níveis da era pré-industrial;

Balanço entre emissões e retiradas de gases de efeito estufa na segunda metade do século XXI;

Comunicação de cada país e balanço global das metas a cada cinco anos;

Ações nacionais obrigatórias, mas sem metas especificas para cada um, o que tira comprometimento do caminho para se atingir a meta de temperatura (por exemplo, com as atuais metas nacionais propostas por cada país para esta COP21, esta meta global estaria muito longe de ser atingida). O acordo define que os países desenvolvidos devam liderar a redução de emissões, mas os países em desenvolvimento também devem se esforçar para isto. E que os países devem perseguir definir e comunicar uma estratégia de longo prazo para baixas emissões (vago);

US$ 100 bilhões anuais de ajuda dos países desenvolvidos àqueles em desenvolvimento a partir de 2020, com relatos a cada dois anos (suficiente? Possivelmente não, mas é um início);

Outros temas – como melhoria da capacidade de adaptação e da resiliência, redução da vulnerabilidade às mudanças climáticas e transferência de tecnologias – foram abordados, porém, sem ações ou metas concretas.

É importante relatar também os esforços não governamentais e empresariais durante a COP21, através de um exemplo: Bill Gates, ao lado de líderes de Estado de todo o mundo, Marc Zuckerberg (Facebook), Jack Ma (Alibaba) e Jeff Bezos (Amazon) anunciaram a criação da “Break-through Energy Coalition”, fundo de U$ 7 bilhões para desenvolver novas tecnologias de energia limpa.

É bonito ver que, apesar do mar de lama e egoísmo, existem muitas pessoas interessadas, preocupadas e contribuindo para a melhoria do planeta, da humanidade e das gerações futuras, e cito um exemplo simbólico: no nascimento de sua primeira filha, o mesmo Mark Zuckerberg e sua esposa anunciaram que vão doar 99% de suas ações do Facebook, no decorrer de sua vida, para projetos de educação, saúde, conexão de pessoas e fortalecimento de comunidades. “Hoje, sua mãe e eu estamos nos comprometendo a passar nossas vidas desempenhando um pequeno papel na ajuda para resolver esses desafios”, ele declarou (possivelmente será vantajoso para os negócios e os impostos, mas de qualquer maneira, a iniciativa é muito bem-vinda).

Levo este pensamento para o novo ano!  Esperando que o mar e as chuvas lavem a nossa alma e a do planeta. E que o espírito colaborativo avance!

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