Água e energia – 2014 começou em falta

Edição 98 – Março de 2014
Por Michel Epelbaum

2014 começou “fazendo água”, melhor dizendo, com falta de água. No lugar do tradicional período de chuvas, fomos surpreendidos com racionamento de água e com risco de racionamento de energia.

Uma crise de abastecimento de água é preocupação internacional reconhecida, sendo classificada pelo Fórum Econômico Mundial como o terceiro maior risco global (fonte: http://www3.weforum.org/docs/WEF_GlobalRisks_Report_2014.pdf). E este problema está às nossas portas. O racionamento de água já foi aplicado em 2014 em 147 cidades, afetando mais de seis milhões de pessoas e 47 cidades estão com seus sistemas de fornecimento de água em colapso (fonte: Jornal Folha de São Paulo, 15/02/14).

A situação é crítica há anos nas regiões metropolitanas de São Paulo (47% dos consumidores – 8,4 milhões) e Campinas, abastecidas pelo Sistema Cantareira. Das 75 cidades abastecidas na região de Campinas, seis já tiveram racionamento de água neste ano, afetando quase 500 mil moradores (fonte: Jornal digital UOL Notícias, 08/03/14). Na Grande São Paulo, os descontos de até 30% nas tarifas pela redução do consumo em 20% geraram economia de água equivalente a 1.985 l/s (fonte: Jornal O Estado de São Paulo, 05/03/14). Significativa mas insuficiente, diante do menor nível atingido nos reservatórios desde a construção (1974). Novas medidas estão sendo adotadas para evitar a crise de abastecimento:

– Redução da captação de água neste sistema em 10% para a Grande São Paulo e em 25% para a região de Campinas;

– “Empréstimo” de água dos reservatórios do Sistema Alto Tietê e Guarapiranga;

– Investimento de R$ 80 milhões na compra de 20 bombas para iniciar em dois meses a captação do “volume morto” (abaixo do nível dos dutos captores no fundo das represas);

– Envolvimento dos maiores consumidores industriais para redução do consumo.

Vale lembrar a elevada ineficiência na distribuição, com média nacional de perdas de faturamento (perdas por vazamentos e financeiras) em torno de 38,8% do total transportado. É importante também reduzir a poluição dos corpos de água e seus efeitos: a coleta de esgotos chega a apenas 48,1% da população brasileira, e somente 37,5% destes recebe algum tipo de tratamento (fonte: http://www.tratabrasil.org.br/situacao-do-saneamento-no-brasil). Segundo a Organização Mundial da Saúde, 88% das mortes por diarreias no mundo são causadas pelo saneamento inadequado, sendo que cerca de 84% destas mortes são de crianças. Estima-se que 1,5 milhão de crianças nesta idade morram a cada ano vítimas de doenças diarreicas, sendo a segunda maior causa de mortes em crianças menores de cinco anos de idade, segundo a Unicef (fonte: Estudo: Impactos na Saúde e no Sistema Único de Saúde Decorrentes de Agravos Relacionados ao Esgotamento Sanitário Inadequado dos 100 Maiores Municípios no Período 2008-2011, http://www.tratabrasil.org.br/datafiles/uploads/drsai/Release-Esgotamento-sanitario-e-Doencas.pdf).

É preciso ainda aperfeiçoar o controle e a fiscalização do uso e poluição das águas subterrâneas, particularmente, sobre os poços clandestinos e nas cidades com grande uso desta fonte, como Ribeirão Preto. E há a questão do potencial impacto às águas subterrâneas derivado da exploração do gás de xisto (ou “folhelho”), que deve ter análise cuidadosa. Neste sentido, vale mencionar a Decisão de Diretoria CETESB 45/14, que atualiza os padrões orientadores para solos e águas subterrâneas no Estado de São Paulo, referência no país sobre este assunto.

O nosso modelo energético, baseado fortemente em hidrelétricas, é considerado um dos mais sustentáveis do mundo, por outro lado, acaba causando uma grande dependência do regime de chuvas no país, que teve índices abaixo de 40% da média histórica em 2014 (efeitos das mudanças climáticas?).

O risco de racionamento de energia passou dos 5% considerados aceitáveis em 2014, atingindo 18,5% em fevereiro, segundo relatório da consultoria PSR. Para complicar, o uso de energia em janeiro de 2014 foi 12% maior do que em janeiro de 2013, por conta do intenso calor. As obras em andamento para expansão da oferta/distribuição apresentam atrasos e as consequências da implantação da Medida Provisória 579/12 (redução do preço da energia) pioraram ainda mais a situação (fonte: Revista Exame, 05/03/14).

Atacar o problema do uso da água é vital para enfrentar diversos problemas, como os de saúde pública, poluição e “apagões”. Independentemente das grandes políticas públicas, cada um pode fazer um pouco para reduzir o consumo de água, não é mesmo?

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