O fenômeno tem sido crescente e impacta a operação do sistema, acentuando a sobrecarga da infraestrutura
A inversão de fluxo tem sido alvo de diversos debates no contexto da expansão da matriz elétrica brasileira. Com o crescimento desordenado da geração distribuída, o fenômeno ocorre em todo o Brasil, com ênfase em algumas regiões, e tem consequências para toda a cadeia produtiva do setor, desde a geração até o consumo.
O presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Marcos Madureira, explica que a inversão de fluxo ocorre quando há excedentes de geração distribuída (GD) em residências, comércios e até nas fazendas solares. A eletricidade que não é consumida simultaneamente é injetada na rede de distribuição. Se não for usada, flui até atingir o Sistema Interligado Nacional (SIN).
Madureira compara o caso a um encanamento: se uma residência tem um poço e não utiliza toda a água, e o que sobra é jogado na rede pública em sentido contrário, provoca um fluxo inverso. “É similar ao que se tem na energia elétrica. Se essa água for um volume muito grande na tubulação, pode trazer um problema”, alerta.
Com muitos sistemas gerando ao mesmo tempo, a quantidade de energia injetada pode danificar equipamentos e sobrecarregar o sistema. O presidente da Abradee explica que, como uma das consequências, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) precisa desligar algumas usinas centralizadas, que estão sob seu controle.
Consequências sistêmicas
O desligamento das usinas a que Madureira se refere é o chamado curtailment energético, que acontece pela injeção de altos volumes de energia inflexível durante horas de carga leve no sistema. Como a produção de energia está acima da necessidade, algumas geradoras precisam ser desligadas. O problema é aumentado por esse crescimento desordenado da GD, que não está no planejamento do sistema e causa incertezas.
“É claro que o sistema elétrico brasileiro é robusto. Mas a introdução dessas energias sem planejamento e cada vez mais intensa já está provocando riscos no sistema de distribuição e de transmissão de energia elétrica. O alto volume de incentivos dado a fontes renováveis, incluindo a MMGD, tem provocado essa sobra de geração que tem levado o ONS a desconectar algumas usinas”, reforça Madureira, que defende a expansão sustentável da matriz elétrica, com planejamento adequado.
Soluções possíveis
O Brasil é rico em recursos naturais e fontes renováveis de energia, e isso deve ser aproveitado. No entanto, Madureira aponta que é preciso discutir de forma aprofundada e aprimorar a gestão do sistema de acordo com o novo cenário que se apresenta, com cada vez mais fontes intermitentes e descentralizadas. O uso de baterias é um exemplo de medida que possibilita acumular a energia produzida nos momentos de baixo consumo e injetá-la na rede quando há maior carga.