As vendas de veículos elétricos e híbridos no Brasil estão em alta. Até julho de 2024, foram vendidos cerca de 94.616 veículos eletrificados, superando o total de 2023, que foi de 93.927 unidades. A Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) estima que as vendas totais em 2024 devem ultrapassar 150 mil unidades.
Atualmente, o Brasil conta com aproximadamente 315.047 veículos leves eletrificados emplacados, representando cerca de 7% dos emplacamentos totais de veículos no país. A participação de veículos elétricos “puros” e híbridos plug-in foi de 70% das vendas nos primeiros sete meses de 2024.
No entanto, o mercado ainda enfrenta desafios importantes, como o alto custo de aquisição, a falta de infraestrutura de recarga e a ausência de incentivos fiscais adequados.
Sob o ponto de vista regulatório, todas as regras que envolvem os veículos elétricos, e suas estações de recargas, estão disciplinadas na Resolução Normativa nº 1.000/2021 da ANEEL.
Neste sentido, a RN 1000 inclui disposições importantes, tais como (i) Instalação de Estações de Recarga. A resolução permite que qualquer interessado instale estações de recarga de veículos elétricos, inclusive para fins comerciais, bem como as distribuidoras de energia elétrica devem facilitar o acesso à rede para essas estações, garantindo a qualidade e a segurança do fornecimento; (ii) Tarifação e Cobrança. A cobrança pelo serviço de recarga pode ser feita de forma livre, permitindo que os preços sejam negociados entre o prestador do serviço e o consumidor. A resolução também menciona a possibilidade de aplicação de tarifas diferenciadas, como a Tarifa Branca, que incentiva o uso de energia fora dos horários de pico; (iii) Direitos e Deveres dos Consumidores. Os consumidores têm o direito de solicitar a instalação de pontos de recarga em suas residências ou empresas, desde que atendam aos requisitos técnicos e de segurança estabelecidos pela ANEEL e as distribuidoras devem fornecer informações claras sobre os procedimentos e custos envolvidos na instalação e uso das estações de recarga.
De forma geral, essas medidas visam regulamentar e promover a expansão da infraestrutura de recarga de veículos elétricos no Brasil, visto que, apesar desse crescimento, a infraestrutura ainda é considerada insuficiente para suportar uma adoção em massa de veículos elétricos. Muitos usuários enfrentam problemas como filas longas e carregadores fora de operação, facilitando a transição para uma mobilidade mais sustentável.
Atualmente, o país conta com cerca de 4.300 estações de recarga, um número que tem crescido rapidamente. Entre janeiro e agosto de 2023, houve um aumento de 28% no número de pontos de recarga, passando de 2.955 para 3.800.
Entretanto, não é apenas a infraestrutura de carregamento de veículos elétricos que necessita atenção. A crescente adoção de veículos elétricos traz impactos e desafios significativos na rede de distribuição de energia elétrica. Aqui estão alguns dos principais pontos a serem considerados:
- Aumento da Demanda de Energia:
- Com a popularização dos veículos elétricos, a demanda por energia elétrica pode aumentar significativamente, especialmente durante os horários de pico, como à noite, quando muitos usuários tendem a carregar seus veículos.
- Segurança e Conformidade Regulatória:
- As concessionárias precisam garantir que as estações de recarga atendam aos padrões de segurança e conformidade regulatória estabelecidos pela ANEEL e outras autoridades. Isso inclui proteção contra sobrecargas e a necessidade de comunicação prévia para novas conexões ou alterações na carga.
- Desgaste da Infraestrutura:
- A conexão simultânea de muitos veículos elétricos pode sobrecarregar a rede, causando desgaste acelerado dos equipamentos e potencialmente levando a falhas ou interrupções no fornecimento de energia.
- Necessidade de Investimentos:
- Para acomodar a nova demanda, pode ser necessário investir em melhorias na infraestrutura, como a ampliação da capacidade das subestações e a modernização das linhas de distribuição.
- Impacto Relativo:
- Estudos indicam que, mesmo com um aumento significativo na frota de veículos elétricos, o impacto total na rede de energia pode ser relativamente pequeno, representando entre 2% e 3% do consumo total de energia elétrica no Brasil até 2035.
- Soluções Inteligentes:
- A implementação de tecnologias de rede inteligente (smart grid) e a utilização de tarifas diferenciadas, como a Tarifa Branca, podem ajudar a gerenciar melhor a demanda e reduzir os impactos negativos.
Esses pontos mostram que, embora a transição para veículos elétricos traga desafios, também há oportunidades para modernizar e tornar a rede de distribuição mais eficiente e resiliente.
Diante deste cenário, concessionárias de energia no Brasil adotam várias estratégias para se preparar para o aumento da demanda causado pela crescente adoção de veículos elétricos.
Se considerarmos a necessidade de modernização da infraestrutura, concessionárias estão investindo em tecnologias avançadas, como redes inteligentes (smart grids), que permitem uma gestão mais eficiente da distribuição de energia e ajudam a evitar sobrecargas, agregando um esforço contínuo para aumentar a capacidade das subestações e modernizar as linhas de distribuição para suportar a demanda adicional.
Para além disso, a implementação de tarifas diferenciadas, como a Tarifa Branca, incentiva os consumidores a carregarem seus veículos fora dos horários de pico, ajudando a distribuir a demanda de forma mais equilibrada.
Essas iniciativas, mesmo que incipientes, mostram que as concessionárias já estão em busca de soluções e tecnologias para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades econômicas trazidas pela transição para veículos elétricos.
Esses desafios destacam a complexidade da transição para uma mobilidade mais sustentável, mas também abrem oportunidades para inovação e melhorias na infraestrutura elétrica, bem como demonstram como a infraestrutura inteligente pode transformar a maneira como gerenciamos e utilizamos a energia elétrica, agora e no futuro próximo!
Sobre o autor:
Frederico Carbonera Boschin é Diretor Executivo da Noale Energia e Sócio da Ferrari Boschin Advogados. Conselheiro da ABGD; Conselheiro Fiscal do Sindienergia RS e Professor do Curso de MBA da PUC/RS, UCS/RS e PUC/MG.