REFLETIR É PRECISO, AGIR TAMBÉM

Ed.56 – Setembro de 2010

Por Jobson Modena

Na idade média, os médicos sangravam indiscriminadamente seus pacientes como solução para várias doenças, fossem elas conhecidas ou não. Com o passar do tempo, as ciências evoluíram. Na medicina, o recurso da sangria, como inicialmente era conhecido, há muito foi preterido.

Infelizmente a evolução na engenharia, notadamente na área da eletricidade – talvez por ser uma ciência mais recente – ainda fraqueja em seus conceitos mais básicos. As velhas práticas passadas de pai para filho seguem seguras, embutidas em potes refratários, inquebráveis, sustentados por portentosos pilares de indolência. O raciocínio retrógrado que alguns profissionais de eletricidade insistem em manter nos remete às medievais sangrias, pois aplicam a mesma solução para todas as situações que encontram.

Exemplifico a comparação com duas questões que me acompanham já há alguns anos:

– De onde tiraram a ideia de que para se ter um eletrodo de aterramento em uma instalação elétrica basta enterrar uma haste no solo sem nenhum critério ou, ainda pior, cravar um prego na parede mais próxima?

– Como, sem conhecer as características do solo, alguns fabricantes de equipamentos de tecnologia da informação* determinam um valor mínimo para a resistência ôhmica do eletrodo de aterramento a ser conectado em seus aparelhos?

Enquanto a primeira questão mostra o total despreparo técnico de quem com ela se identifica, a segunda caracteriza uma enorme inversão de valores, em que fornecedores chegam a ameaçar seus clientes com a perda de garantia caso a exigência não seja cumprida. Prezados clientes, preparem-se tecnicamente, mantenham suas instalações elétricas em conformidade com as normas técnicas e exerçam seus direitos adquirindo os equipamentos com outras empresas.

O conceito agregado

Valores de resistência ôhmica do eletrodo de aterramento não dependem exclusivamente da quantidade ou do tipo de condutor nele empregado, mas, principalmente, de como esse material estiver disposto no solo, das conexões envolvidas e das características desse solo, ou seja, sem o conhecimento desses parâmetros não há como se exigir qualquer valor! Sem mencionar a metodologia do ensaio para a sua obtenção, muitas vezes aplicada de modo questionável.

Em nenhum texto de norma nacional consta a exigência de valor mínimo de resistência ôhmica do eletrodo. A ABNT NBR 5419:2005 – Proteção de estruturas contra descargas atmosféricas menciona 10 ? como valor de referência, mas é enfática na afirmação de que a configuração e a topologia da instalação do eletrodo são muito mais importantes do que este valor. Assim, dependendo das condições do local, um eletrodo de aterramento cujo ensaio apresentou um valor de 30 ? pode não estar condenado. Para determinadas condições específicas inerentes ao local, esse pode inclusive ser considerado um ótimo valor.

Nos textos das NBRs 5410:2008 e 14039:2005, respectivamente sobre instalações elétricas de baixa e média tensão, não é mencionado valor algum para resistência ôhmica do eletrodo de aterramento, aliás, na revisão da NBR 5419:2005, que está em andamento, os tais 10 ? já foram retirados do texto.

É consenso na comunidade técnica internacional que o bom aterramento é aquele capaz de dissipar as correntes indesejáveis de uma instalação elétrica para o solo da forma mais rápida, causando a menor perturbação, relativa às tensões superficiais de solo, possível no local. Isso significa que o bom eletrodo é aquele que faz seu trabalho provendo condições para a resistência dos condutores a esforços eletrodinâmicos e térmicos, bem como considerando as tensões de toque e de passo suportáveis pelas pessoas, instalações e equipamentos.

É fundamental que este assunto não seja esquecido como geralmente é o eletrodo de aterramento (por estar enterrado). Apenas por meio do estudo e do debate técnico, poderemos buscar subsídio e atualizar nossos conceitos. Esta é a fórmula para jamais admitirmos que seja cravado unicamente um pedaço de aço ou cobre no solo com a finalidade de eletrodo de aterramento, que este “eletrodo” seja medido com um terrômetro convencional utilizando cabos cujo comprimento não ultrapasse 15 m. Mesmo que do ensaio resulte um valor de 0,1 ?, jamais utilizemos esse “eletrodo” como aterramento exclusivo para o nosso equipamento, pois certamente teremos a consciência de que estaremos piorando as condições locais de segurança tanto pessoal quanto das instalações.

*Desde a revisão de 2004 da ABNT NBR 5410, ETI – Equipamento de tecnologia da informação deixou de ser uma denominação passando a ser um conceito: todo equipamento que possua duas entradas de condutores elétricos, por exemplo, uma de energia e uma de sina, ou ainda aquele equipamento que for microprocessado deve ser considerado ETI.

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