“O teatro, que nada pode para corrigir os costumes, muito pode para mudá-los” Jean-Jacques Rousseau

Edição 63 – Abril 2011
Por Dácio de Miranda Jordão

Na antiguidade, o teatro era utilizado como um meio de comunicação com o “divino”. Durante séculos e séculos essa técnica consolidou-se como um instrumento poderosíssimo para passar mensagens, influenciar pessoas e mudar comportamentos.

Quando se trata de treinar, educar e conscientizar a força de trabalho das empresas para a segurança, o teatro ganha uma posição de destaque perante as técnicas convencionais. Não se quer dizer com isso que essas técnicas tradicionais não sejam válidas, mas a arte cênica complementa e reforça os conceitos, pois o seu alcance é muito profundo, atinge a base central emocional de cada ser e por isso seu resultado é muito marcante e duradouro.

O teatro permite que as pessoas que o assistem vivenciem e se identifiquem com aquilo que está acontecendo no palco, e quanto mais próximo o desempenho artístico for da realidade da empresa, mais efetivamente a mensagem será passada.

Observa-se que, de modo geral, toda vez que ocorre um acidente industrial e esse acidente causa danos graves a alguém, a morte, por exemplo, é como se uma onda de choque tendo como epicentro a própria vítima se propagasse, atingindo fortemente aquelas pessoas que fazem parte do universo social do acidentado e, de forma muito violenta, atinge os mais próximos, como esposa, filhos, pai, mãe, etc.

De modo geral, as medidas adotadas para controlar o desconforto causado pelo sinistro, de modo geral, se concentram na vítima, nas instalações e, às vezes, no apoio material e psicológico à família da vítima. Acontece que isso é feito num tempo suficientemente curto para que a rotina de trabalho seja restabelecida. Depois desse momento, a tragédia vai sendo esquecida pela grande maioria, diminuindo gradativamente o impacto nefasto e o sentimento de angústia que toma conta das pessoas mais próximas e é muito forte no período “logo após o acidente”.

Essas medidas não são capazes de curar as feridas profundas que marcam para sempre todos aqueles que conviviam com o acidentado. Por exemplo, imaginemos uma peça de teatro, que simula e reproduz um evento grave, previsível ou possível de acontecer pelo tipo de atividade da empresa que envolve risco, mas esse evento não aconteceria caso os trabalhadores estivessem perfeitamente conscientizados quanto às atitudes, aos comportamentos e às medidas de segurança. Então, nesse momento, essa performance tem um papel importantíssimo no sentido de consolidar e manter presente todos os conceitos, que foram aprendidos por meio dos processos de treinamento convencionais aplicados pela empresa em sua força de trabalho.

E vai mais além, pois mostrará como esse efeito tipo onda propagante atinge a família do acidentado e isso pode ser bastante forte e esclarecedor para essa família fictícia representada pelos atores e para as outras famílias que assistem ao espetáculo, inclusive mostrando o tipo de atividade e o ambiente de trabalho do acidentado, que, na maioria das vezes, é completamente desconhecido por eles.

Por isso é muito interessante que nessas apresentações a família dos trabalhadores seja convidada a assistir, pois eles estarão entendendo melhor as situações pelas quais o trabalhador pode estar sujeito e esse entendimento pode servir como um poderoso instrumento de motivação para as questões de segurança no trabalho. Imagine o filho, depois de assistir a uma peça dessas, falando para o pai no momento em que ele sai para o trabalho: “Pai, tome cuidado com a sua segurança. Quero que você volte para casa sem nenhum acidente”. Isso tem um peso incomensurável.

A seguir mencionam-se trechos de um trabalho de conclusão de curso discente, elaborado por Candice Valduga de Alencastro Guimarães, na Universidade de Caxias do Sul (UCS), em junho de 2002, cujo título é: “Teatro empresa: recurso de relações públicas na sensibilização do público interno das organizações”. Os trechos selecionados são descritos a seguir:

  • O teatro é uma linguagem poderosa, com alto poder de síntese e rica de possibilidades estéticas;
  • É capaz de proporcionar impacto múltiplo e diversificado;
  • Não existem temas impossíveis para o teatro. Política, religião, ciência, filosofia, ética, moral, o ridículo, as paixões humanas, o direito e a força, as razões pessoais e as razões de estado, a paz e a guerra, assuntos íntimos e públicos, individuais e coletivos, vêm sendo matéria do teatro há mais de dois mil e quinhentos anos.
  • É uma experiência diversa e diversificada. Diversa porque foge ao padrão de vivência habitual. Diversificada porque expõe o indivíduo a uma quantidade considerável de estímulos múltiplos e intensos, que raramente se encontra em outras situações.
  • O nível de expectativa é sensivelmente mais alto do que o suscitado por qualquer atividade de treinamento convencional.
  • O teatro é capaz de gerar um registro muito mais consistente na memória ao atingir o espectador em três níveis: racional, emocional e estético, portanto, quando utilizado em um programa de treinamento, resultará em alto índice de assimilação e retenção do conteúdo enfocado por parte do funcionário.
  • Uma peça de teatro equivale, em conteúdo, a pelo menos dez vezes mais tempo de treinamento convencional porque pode ser vista, ouvida e sentida.
  • A possibilidade de apresentar cenas com situações, conceitos e ideias, que estimulam a adoção de uma nova postura profissional, interferindo efetivamente na cultura da empresa.
  • A identificação despertada pela experiência teatral cria empatia com as personagens da cena e com as situações retratadas.
  • O potencial emotivo é maior do que em outras linguagens. A informação no teatro não é fria. Todo conteúdo veiculado na cena está impregnado de emoção.
  • Assistir a uma peça é participar de um jogo prazeroso. O teatro, com a diversão, tem acesso irrestrito ao indivíduo, educando-o.
  • Esquece-se de um filme, um livro, um vídeo, uma aula, mas não se esquece de uma peça de teatro porque a presença do ser humano ao vivo em cena é um grande diferencial. A cena teatral é viva. O instante da criação é presenciado, proporcionando a experiência compartilhada entre ator e espectador, que se encontram em um mesmo local ao mesmo tempo.
  • O poder de síntese da linguagem cênica é muito superior ao de outras linguagens porque lança mão de recursos expressivos próprios da linguagem teatral com a de outras artes (dança, música, etc.) associados à tecnologia atual para iluminação e efeitos visuais, permitindo a encenação um vocabulário amplo com um extenso conteúdo informativo em pouco tempo.
  • Uma apresentação teatral pode ser assistida por muito mais pessoas do que um treinamento convencional, gerando um custo x benefício relativamente baixo, além de poder reunir e abranger todos os níveis hierárquicos de uma organização.
  • O teatro, embora seja ensaiado previamente, sempre tem um componente improvisado, que se abre para o inesperado. A relação dos atores com os espectadores mudará em cada sessão ou apresentação, porque depende da emoção e energia compartilhada. É nisso que reside parte do encantamento desta arte efêmera. Ao contrário de um filme, vídeo, quadro, escultura ou música gravada, porque são obras concluídas.
  • A peça é elaborada e/ou adaptada segundo as necessidades e expectativas da empresa.

VAMOS AO TEATRO?< /p>

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