E o legado da Copa do Mundo?

Edição 102 – Julho de 2014
Por Michel Epelbaum

A água desapareceu do radar de preocupação das pessoas durante o mês da Copa, apesar de ter piorado a situação: no início de julho, o nível da água do Sistema Cantareira estava em 18,5% (sem o volume morto, o nível seria 0%) e do Alto Tietê em 24%; diversas cidades da região de Campinas e Sorocaba estão com racionamento; o lago da usina de Furnas está no nível mais baixo desde 2001, ano do “apagão”, e a “disputa a tapa” continua entre a água para gerar energia e para os demais usos.

Mesmo assim, tenho que me render aos fatos e fazer a última coluna sobre a Copa, que sumirá rapidamente dos noticiários (ainda mais depois do “apagão” do Brasil contra a Alemanha e da baixa energia contra a Holanda), restando o seu legado, sobre o qual falaremos aqui.

Temos o legado (in)questionável dos estádios. E sua certificação sustentável não é 100% como previsto: em 18 de junho, a FIFA e o Green Building Council (GBC) anunciaram que somente metade das arenas recebeu a certificação LEED: Mineirão (categoria Platinum – a mais alta), Maracanã, Fonte Nova, Arena Amazônia, Arena Pernambuco (categoria Silver) e Castelão (certificação simples). Sobre as parcas obras viárias do entorno: serão úteis, mas longe de serem um grande avanço na mobilidade urbana. Talvez um legado útil da Copa seja a ampliação dos aeroportos de várias cidades-sede.

E no campo social, qual foi o legado? Muito se questionou sobre violações de direitos humanos durante as manifestações contra a Copa. O governo federal falou de programas sociais paralelos ao evento, mas não parecem ser proporcionais à importância do evento e dos gastos, para se tornar um legado efetivo. Chamou mais a atenção o grande envolvimento da seleção alemã com a comunidade no sul da Bahia, deixando como legado um novo campo de futebol para os moradores, doando recursos financeiros aos índios Pataxós de Coroa Vermelha para aquisição de ambulância e para a Escola da Vila de Santo André por três anos.

Sobre o legado social, vale a pena passar um relato feito pelo Instituto Ethos, em seu boletim de 27 de junho de 2014, sobre a gestão sustentável e responsável do futebol da Costa Rica, que nesta Copa fez história. Começando pela base: aboliu o exército em 1948 e direcionou as verbas militares para o ecoturismo e manejo sustentável das florestas; é o único país da América Latina na lista das 22 democracias mais antigas do mundo, e está à frente do Brasil quanto ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e à sustentabilidade (considerado em 2012 o país com melhor desempenho ambiental do continente americano e o quinto do mundo).

Até os anos 1990, o futebol costarriquenho era um esporte semiamador, quando o professor Roberto Artavia da Incae Business School, da Costa Rica, elaborou o projeto “A Indústria do Futebol: Responsabilidade Social e Promoção de Valores”. O projeto foi adotado pelo empresário mexicano Jorge Vergara (dono do Chivas México/EUA e da empresa Omnilife), que comprou o Saprissa da Costa Rica no início dos anos 2000. A partir de então contratou somente jogadores costarriquenhos, fortaleceu e lançou marcas próprias do time, abriu escolinhas de futebol, fez parceria com a Prefeitura da capital para manutenção de campos e de equipes infantis/juvenis em bairros da periferia e fundou a escola e a universidade do futebol para capacitar profissionais.

O Saprissa venceu a Liga de Clubes Campeões da Concacaf em 2005 e participou do Campeonato Mundial Interclubes, no Japão, influenciando a modernização dos demais clubes e da federação de futebol do país. A primeira divisão hoje tem como objetivo específico promover a identidade comunitária e a coesão social, capacitando técnicos, dirigentes e executivos dos clubes, e estimulando as empresas a usar o investimento social privado em projetos de futebol. Os estádios estão sendo reformados conforme o “padrão Costa Rica”: segurança, equipamentos, higiene e acessibilidade, sem luxo.

A Costa Rica também criou as primeiras fundações de times de futebol, iniciando pelo Saprissa, mobilizando a sociedade junto com ONGs e governos para projetos que beneficiem jovens e setores carentes da população, incentivo a trabalhos voluntários de torcedores, inserindo jovens em risco social com o futebol, e operando centros comunitários de reciclagem de resíduos sólidos.

Espelhando-se no exemplo da Costa Rica, vamos sonhar com um legado além de estádios e obras, e revolucionar a “indústria” do futebol brasileiro e a inserção das comunidades em um projeto sustentável de longo prazo?

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