Discursos x práticas de responsabilidade social e sustentabilidade

Edição80 – Setembro 2012

Por Michel Epelbaum

Ao participar de um encontro sobre sustentabilidade no setor elétrico, percebi o quão distante estamos de entender o seu conceito e abrangência, mais ainda de praticá-la como rotina.

 

 

Após 25 anos da criação do conceito de “desenvolvimento sustentável”, 20 anos da Eco-92, após quase dois anos da criação da ISO 26000, dois meses após a Rio+20, o conceito e a abrangência de sustentabilidade discutidos por alguns públicos de alto nível ainda parecem estar limitados a meio ambiente, baseados em reações à legislação e em assuntos que clara e quantitativamente representem vantagem competitiva ou comercial.

Os resultados produzidos pela norma ISO 26000 – Diretrizes sobre Responsabilidade Social, publicada em novembro de 2010, ajudaram muito no entendimento de que a abrangência deve envolver assuntos como governança, direitos humanos, práticas trabalhistas, meio ambiente, práticas leais de operação e questões relativas ao consumidor. Além disso, os conceitos, princípios, práticas e ferramentas de gestão foram padronizados, e foi esclarecida a relação com a sustentabilidade (“responsabilidade social é um modo de ser para atingir o desenvolvimento sustentável”). Neste sentido, devem ser feitos esforços para a maior divulgação e implementação desta norma, pois ela ainda é pouco conhecida e aplicada.

Nessa mesma direção, a norma brasileira de requisitos para Sistema de gestão de Responsabilidade social – ABNT NBR 16001 foi uma das primeiras normas certificáveis de sistemas de gestão de responsabilidade social, dentro do conceito ISO 9001, porém a sua aplicação ainda é limitada a poucas dezenas de organizações. Tal desconhecimento é parte do problema de divulgação, conhecimento e valor atribuído.

Depois de dois anos de trabalhos da Comissão de Estudo Especial de Responsabilidade Social (ABNT/CEE-111) da ABNT, foi publicada a revisão da NBR 16001, entrando em vigor em 03/08/12. Esta revisão teve como objetivo atualizar a norma de 2004, baseada na publicação da ISO 26000, melhor referencial normativo atual para o assunto. As maiores mudanças na revisão da norma referem-se a um alinhamento com a ISO 26000, contemplando a adoção de seus conceitos, princípios e temas, e o reforço de requisitos relativos ao diálogo, comunicação, engajamento, tratamento de reclamações e relato de desempenho relacionado às partes interessadas. Os próximos passos da CEE-111 da ABNT poderão ajudar na maior difusão da norma, particularmente, a implementação de um processo de comunicação e solução de dúvidas com interessados, e ações de divulgação sobre a nova revisão da NBR 16001.

Muitas iniciativas estão sendo definidas ao redor do mundo para se caminhar na direção do desenvolvimento sustentável, mas ainda assim a sensação é de que a velocidade de entendimento e implementação de práticas para reduzir impactos é lenta diante dos problemas atuais.

O que podemos fazer para acelerar este processo?  Aí vão algumas ideias:

  • Fortalecer o diálogo inter-setorial e inter-categorias, envolvendo os representantes dos vários grupos de interesse (como feito no processo de elaboração da ISO 26000), de modo a construir soluções coletivas inteligentes, racionais, com consenso, de alto valor agregado, de longo prazo e que ataquem as causas dos problemas (que vão além das paliativas de curto prazo).
  • Construir e juntar estudos de caso com fatos e dados, qualitativos e quantitativos, tangíveis e intangíveis, que demonstrem a lógica do retorno sobre o investimento socioambiental para todas as partes interessadas;
  • Participar de esforços coletivos, como associações de classe, de profissionais, organizações não governamentais, fóruns especializados, etc.
  • Trabalhar com os legisladores para incluir na legislação critérios de sustentabilidade coerentes e com tempos de implementação evolutivos que levem à melhoria do desempenho;
  • Trabalhar com os líderes governamentais para implementar as práticas de compras governamentais com critérios sócio-ambientais (falarei mais sobre este tema em artigo futuro);
  • Divulgar amplamente as melhor práticas de responsabilidade social e sustentabilidade, assim como os melhores modelos normativos, de modo a criar o entendimento e a conscientização sobre soluções para os problemas atuais;
  • Educar os consumidores para observarem os critérios socioambientais dos produtos para entenderem sua importância como indutores de mudanças nas empresas fabricantes de produtos e prestadoras de serviços, e para agirem por meio de seu ato de compra;
  • Fortalecer junto aos clientes o entendimento de que eles são corresponsáveis pelos impactos socioambientais em sua cadeia de valor e que podem influenciar por meio de decisões de compra com critérios de sustentabilidade;
  • Avançar na inclusão de critérios de sustentabilidade no mercado financeiro e de investimentos, de forma mais abrangente para todas as organizações, não somente para alguns segmentos;
  • Aumentar o conteúdo de sustentabilidade e responsabilidade social nas instituições de ensino em todos os níveis, de modo a educar crianças e jovens desde cedo

Participar, dialogar, normatizar, educar, motivar, implementar, monitorar e evoluir. É dar o primeiro passo e começar a andar!

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