Bola dividida

Edição  69 – Outubro de 2011
Por Luciana Mendonça 

A Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016, eventos esportivos de grande porte a serem realizados no Brasil, estão suscitando uma série de discussões sobre planejamento e obras de infra-estrutura na área energética, com a finalidade de garantir que o sistema não fique sobrecarregado, durante os eventos, não ocorrendo falhas principalmente no que tange a geração, transmissão e distribuição de energia. Investimentos para a Copa do Mundo e Olimpíadas dividem opiniões sobre grandes obras no setor energético.

Com a finalidade de conduzir a realização de atividades necessárias à elaboração do “Plano de Ação da Copa 2014”, bem como o acompanhamento da sua implementação, o Ministério de Minas e Energia (MEE), considerando a deliberação do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), criou um Grupo de Trabalho que tem as seguintes atribuições principais:

  • descrição da topologia atual do sistema de suprimento de energia elétrica às capitais-sede da Copa 2014, abrangendo o sistema de transmissão (Rede Básica e Demais Instalações de Transmissão – DIT) e as redes de distribuição;
  • descrição das obras já previstas para entrarem em operação até 2014, com impacto no suprimento elétrico às mencionadas localidades;
  • avaliação do desempenho do sistema elétrico de suprimento às referidas capitais no ano de 2014;
  • definição das ampliações e reforços a serem implantados, de forma a garantir desempenho adequado do Sistema em 2014;
  • elaboração de Plano de Ações específico destinado ao controle, à avaliação e ao acompanhamento das atividades previstas.

O GT é composto por membros do MME, Empresa de Pesquisa Energética (EPE), da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), presidentes das empresas de distribuição com áreas de concessões envolvendo as capitais-sede da Copa 2014, presidentes das Empresas de Transmissão proprietárias de instalações com impacto no suprimento elétrico às capitais-sede da Copa 2014 e Secretários Estaduais de Energia dos Estados cujas capitais serão sedes da Copa de 2014.

Trabalhando com reuniões periódicas para a produção de relatório que pretende estimar os investimentos necessários para a realização da Copa do Mundo, o GT pretende divulgar durante a próxima reunião, em novembro, quanto o Brasil deve gastar no setor elétrico, em ações de médio e curto prazo, para suprir a demanda dos eventos esportivos no Brasil. Enquanto não se tem uma avaliação pronta algumas empresas adiantam-se em termos de planos e ações de infra-estrutura, independente de polêmicas sobre a necessidade de projetos temporários e definitivos, além de alternativas mais baratas para os eventos.

A Aggreko Brasil – especializada em serviços de geração e distribuição de energia – é uma das empresas que defende o uso de soluções temporárias para a Copa do Mundo e a Olimpíada. Segundo Diogenes Paoli Neto, diretor da Aggreko para a América do Sul, as soluções temporárias de energia são ideais, por apresentarem maior flexibilidade e menores custos, e sem a necessidade de investimento de capital para compra ou manutenção de equipamentos. “As soluções temporárias desempenham um papel essencial na realização de grandes eventos, uma vez que são projetadas para atender a uma demanda significativa e muito acima da requerida para atender a demanda normal da localidade. Para eventos desse porte, por exemplo, contamos com sistema duplo de geradores operando simultaneamente para garantir energia confiável para que jogos e competições, bem como sua transmissão ao vivo, possam ocorrer sem falhas, sem interrupções.”, explica Neto.

Defendendo as soluções temporárias, mas por motivos diferentes, o assessor de diretoria da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Fernando Umbria, explica que estão previsto investimentos da ordem de R$ 4,7 bilhões no sistema elétrico brasileiro para que as redes sejam capazes de suportar a demanda principalmente nos horários de jogos. A maior parte desses recursos – R$ 3,4 bilhões – deve ser destinada aos sistemas de distribuição.

“Nós sabemos que é necessário sim investir em ampliação, reforçar substituição de equipamento, mas com periodicidade. Agora a nossa preocupação é que estamos vendo investimentos definitivos desnecessários para um evento que é pontual e que irá refletir diretamente na conta dos consumidores, incluindo os residenciais”, pontua Umbria.

A Abrace defende que sejam estudadas alternativas de gestão antes da aprovação de investimentos extraordinários no sistema elétrico brasileiro por conta da Copa do Mundo de 2014. “O evento da Copa por si só não justifica a antecipação de investimentos em ativos que ainda não são necessários pelos padrões atuais de consumo”, afirma Umbria.

Para a associação, há tempo para planejar ações e reduzir estes investimentos. “Sabemos que durante os jogos, além da demanda habitual, também haverá um aumento acentuado no uso de energia. O que propomos é que, por exemplo, as indústrias que operarem em cidades-sede e tenham plantas em outros locais, compensem a produção nas cidades que não tenham jogos. Também há a possibilidade de ofertar descontos no custo da energia para empresas que programassem paradas de manutenção ou férias coletivas durante os jogos, reduzindo seu consumo. A participação seria sempre voluntária e poderia ser colocada em prática por meio de leilões de demanda”, sugere Umbria.

Do lado das soluções definitivas, a AES Eletropaulo é uma das distribuidoras que já trabalha em melhorias, prevendo a Copa do Mundo mais especificamente. A empresa está investindo mais de R$ 306 milhões em obras que estarão prontas até 2014. O dinheiro será aplicado em duas novas subestações, com capacidade adicional de 240 megawatts, suficiente para suprir a energia de 720 mil pessoas. O projeto também engloba cinco complexos de linhas de transmissão, que agilizam a distribuição de energia entre as subestações e os clientes.

Se

gundo a empresa, as iniciativas beneficiarão os 6,2 milhões de clientes da concessionária. Dentre as ações, destaque para o fornecimento de energia para o Estádio do Corinthians, o “Itaquerão”. A AES Eletropaulo terá duas subestações para atender à demanda de energia. Uma das subestações funcionará como backup. As duas unidades estão digitalizadas, e todo sistema está interligado ao Centro de Operações da distribuidora, de onde será monitorado ininterruptamente.

Todos estes investimentos vão ao encontro da política que a empresa adotou de olhar de forma integrada para as obras “carimbadas” de infraestrutura da Copa do Mundo, que visam melhorar todo o abastecimento. “O que nós queremos é garantir a operacionalidade do sistema de forma contínua durante o período e é inegável que investimentos precisam ser feitos para isso, pois precisamos garantir o fornecimento de energia, não somente nos estádios, mas na indústria, nas residências, hospitais etc. A integridade do sistema, mediante a demanda extra, justifica os investimentos”, esclarece o diretor de planejamento e engenharia, da AES Eletropaulo, Anderson Oliveira.

Para a distribuidora paulista, os investimentos em projetos definitivos apontam também para a tendência destes grandes eventos esportivos de promoverem melhorias de infraestrutura nas localidades onde são realizados. “O Brasil é um país em desenvolvimento. Há uma concentração de carga e demanda crescente que só se intensificam com a Copa do Mundo e com a própria Olimpíada. É inegável que em algum momento teríamos de aplicar recursos deste porte à rede, no nosso ponto de vista, o evento só as antecipa, mas não vejo a possibilidade de que, após os eventos, haja estrutura ociosa por muito tempo”, ponto Oliveira.

A posição da AES Eletropaulo é exatamente contrária ao que acredita a Abrace sobre tais investimentos. Para a associação, falta equilíbrio adequado entre investimentos e tempo. “Eventos pontuais estão acelerando a realização de obras caras que ficarão ociosas por muito tempo após a Copa do Mundo e Olimpíada. O fato é que, a partir do momento que estas obras são iniciadas, nós pagamos por elas, mesmo que não utilizemos esta estrutura depois. Então teremos uma capacidade disponível ociosa e pagando por ela. Creio que o que seja central no planejamento energético para os eventos é garantir a segurança e a confiabilidade da rede durante todo o evento, de forma econômica”, afirma Umbria.

Em meio a estes impasses, o que todos estão de acordo é que o planejamento é primordial nesta questão e precisa ser acertado o mais rapidamente possível para enfrentar desafios como a qualidade do serviço prestado pelas distribuidoras.

Este é um dos pontos defendidos pela Abrace, que pontua o problema enfrentado em relação à queda de qualidade de serviços para os grandes consumidores e residências, nos últimos três anos. O problema com interrupção de energia é decorrente do aumento da demanda aliado às intempéries da natureza que acabam interrompendo a energia, por conta de nossas linhas de transmissão serem aéreas e mais suscetíveis a eventos climáticos. “Não somente durante os eventos, mas tendo eles como pano de fundo, as empresas precisam garantir o atendimento adequado e com continuidade durante o período de realização da Copa e Olimpíada. Sabemos que nenhuma rede é infalível, e que sempre há a possibilidade de um apagão. Porém, com planejamento, com cuidados prévios, é possível minimizar riscos, com custo compatível e a colaboração dos consumidores”, defende Umbria.

Para Oliveira, o último grande evento esportivo sediado pelo Brasil foi a Copa de 1950, e muitas coisas mudaram neste período. O momento, portanto, é de planejamento e de tentar suprir carências do próprio setor como a mão de obra qualificada. “No meu entendimento, todo este processo de programação é aprendizado. O Brasil está crescendo em vários setores, e acabamos tendo de enfrentar um problema que é nosso, é da construção civil, que é a escassez de trabalhadores qualificados. Estamos também investindo na capacitação de eletricistas e demais funcionários, para garantir a operação de todo o sistema ria. Quanto ao cronograma de nossas obras, estamos dentro do prazo e entregamos tudo pronto em 2014”.

Para Neto, o desafio é o Brasil reunir representantes dos setores público e privado para planejarem e discutirem temas como infraestrutura e serviços, preparando os setores para as novas oportunidades que surgirão impulsionadas pelos grandes eventos esportivos que o país vai sediar em 2014 e 2016. “Nossa experiência adquirida como fornecedores de importantes campeonatos mundiais nos permitiu identificar os aspecto essenciais para um fornecimento de sucesso. Para grandes eventos, como uma Copa do Mundo ou Olimpíada, o planejamento é essencial e um fornecimento de energia estável e confiável, é crucial”. 

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